Empresas sul-coreanas: um pesadelo para funcionários estrangeiros

  • Por Agencia EFE
  • 07/03/2015 06h30
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Atahualpa Amerise.

Seul, 7 mar (EFE).- Jornadas intermináveis, pouco tempo de férias e bebedeiras obrigatórias com o chefe são parte da cultura empresarial da Coreia do Sul, o que representa um pesadelo para os estrangeiros que trabalham em empresas do país.

“Tenho medo de pedir minhas férias, porque meu chefe pode dizer que não ou até fazer um escândalo”, contou à Agência Efe um engenheiro espanhol, de 34 anos, que trabalha para uma filial do Grupo Samsung, o maior conglomerado empresarial da Coreia do Sul.

Da mesma forma que seus companheiros sul-coreanos, o estrangeiro, que não quis que eu nome fosse revelado, tem 15 dias de férias por ano no contrato, mas, segundo ele, no país os que tiram todo este período são mal vistos e ficam com a imagem de desocupado. Por conta disso alguns chegam a tirar apenas três dias de férias por ano.

Conciliar a vida profissional com a particular é a maior dificuldade para 36,9 % dos estrangeiros na Coreia do Sul, maior ainda do que driblar a barreira do idioma (30,7%), segundo um recente levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa da Hyundai.

Os estrangeiros que vivem na Coreia do Sul somam mais de um milhão de pessoas. Desses, apenas 2,5%, ou 25 mil, são trabalhadores estrangeiros qualificados empregados nas grandes empresas sul-coreanas de setores como o de tecnologia e o automotivo.

A pesquisa da Hyundai especifica que muitos destes funcionários qualificados se consideram vítimas da “rígida cultura laboral”, além de sofrerem com “as excessivas horas de trabalho e a estrutura hierárquica que torna muito difícil expressar opiniões”.

Em apenas 60 anos, a Coreia do Sul conseguiu sair da pobreza extrema – seu PIB era um dos mais baixos do mundo no final da Guerra da Coreia em 1953 – para se tornar a 13ª maior economia mundial e um grande referente tecnológico, além de ser o único país que passou de receptor a doador de ajuda em prol do desenvolvimento.

Com uma superfície de menos de 100 mil quilômetros quadrados e poucos recursos naturais, os sul-coreanos aliaram o futuro à força de trabalho de seus habitantes, que conseguiram levantar o país com muito suor, compromisso e obediência absoluta aos superiores. Assim, no século XXI, esta cultura ainda está presente.

“Se o seu chefe ainda não foi embora você também não pode ir, mesmo que já sejam 20h”, comentou à Efe um engenheiro mexicano, de 32 anos, que trabalha para uma das grandes construtoras do país asiático.

Com 50 milhões de habitantes, a Coreia do Sul é o segundo país do mundo desenvolvido em que os profissionais mais acumulam horas no trabalho, 2.163 anuais, atrás do México em que as pessoas passam 2.237 horas por ano trabalhando, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O engenheiro mexicano também crítica o que chama de “extrema competitividade” entre seus colegas sul-coreanos, ansiosos por agradar o chefe.

“É preciso tratar o presidente com um respeito altíssimo, embora ele só esteja um cargo acima de você”, relatou.

Outra dor de cabeça para alguns, mas fonte de diversão para outros, é o que se conhece na Coreia do Sul como “hoesik”, uma saída informal depois do trabalho que costuma acabar em bebedeira coletiva de soju, bebida destilada feita de arroz.

“Seja segunda, terça ou sexta-feira, se o chefe decide que essa noite tem “hoesik” você tem que cancelar todos os seus planos e ir com o resto da equipe. Não há desculpa que sirva para recursar”, garantiu o engenheiro espanhol da Samsung.

Além disso, na cultura coreana os colegas servem bebida alcoólica uns aos outros e é falta de educação dizer que não aceita.

“A pessoa tem que estar muito atenta ao lugar em que vai se sentar. Se ficar ao lado de alguém que bebe muito, a bebedeira está garantida ainda que você não queira”, detalhou. EFE

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