ETA anuncia que entregou parte de seu arsenal, segundo “verificadores”

  • Por Agencia EFE
  • 21/02/2014 15h03

Bilbao (Espanha), 21 fev (EFE).- A entrega de uma parte do arsenal da ETA anunciada nesta sexta-feira não é mais do que uma “encenação”, segundo o Governo espanhol, e “um pequeno passo, mas não suficiente”, para o Executivo regional basco, embora ambos reconheçam que todo ato que propicie o fim do grupo terrorista seja positivo.

Quatro armas de fogo, cerca de 300 balas, várias granadas e material para a fabricação de explosivos e outros dispositivos como temporizadores, estão no inventário de parte do arsenal da organização terrorista anunciado nesta sexta-feira pela denominada Comissão Internacional de Verificação (COM).

O porta-voz da COM, Ram Manikkalingam (do Sri Lanka), distribuiu o inventário e leu um comunicado para uma centena de jornalistas em um ato na cidade espanhola de Bilbao, no País Basco (norte da Espanha).

Segundo tal comunicado, o grupo terrorista ETA “colocou fora de uso operacional” parte de seu armamento.

No texto, a COM – cujo papel mediador não é reconhecido pelo Governo espanhol – afirmou ter comprovado que a organização terrorista promoveu um “processo de selagem e colocação fora de uso operacional” de armas, munição e explosivos no mês de janeiro e que este fato foi gravado em vídeo, transmitido pela rede de televisão pública britânica “BBC”.

No vídeo, de um minuto e 30 segundos de duração, aparecem dois membros da ETA encapuzados apresentando armas e munição aos denominados verificadores internacionais, antes de colocá-las fora de uso.

A COM considerou este um passo da ETA “crível” e “significativo”.

Pouco antes, o ministro do Interior espanhol, Jorge Fernández Díaz, tinha assegurado que, embora qualquer passo no caminho do fim e desarmamento da ETA seja “positivo”, o grupo terrorista não necessita de verificadores para entregar suas armas, já que “com a Guarda Civil e a Polícia basta”.

“É evidente que tudo o que for feito para se avançar no caminho do fim da ETA é positivo e tudo o que for feito para se entregar as armas é positivo, mas isso não é incompatível com o fato de que se trate de uma encenação”, destacou Jorge.

“É uma etapa mais de um exercício de tramitação, de encenação que a ETA continua realizando desde que em 20 de outubro de 2011 anunciou a cessação efetiva de sua atividade terrorista, porque estava derrotada”, acrescentou o ministro na entrevista coletiva posterior ao habitual Conselho de Ministros das sextas-feiras.

Por sua vez, o presidente regional basco, Iñigo Urkullu, afirmou que a decisão da ETA é “um pequeno passo, mas não suficiente”, apesar de ter expressado sua confiança em que “cumpra uma primeira e necessária etapa para o desarmamento completo”.

O lehendakari (presidente basco) exigiu da ETA que em seu caminho rumo ao desarmamento, cumpra com um “marco importante” que é “o reconhecimento do prejuízo injusto causado”.

Tanto o Partido Popular (PP), no Governo, como a oposição qualificaram de “farsa” este anúncio de desarmamento parcial da ETA.

A vice-secretária-geral do partido socialista PSOE – a maior legenda da oposição -, Elena Valenciano, lembrou que a ETA “deixou de matar sem receber nada em troca” há mais de dois anos e o fez “porque estava derrotada”, e ressaltou que o que tem que fazer agora é “deixar todas as armas e desaparecer”.

A presidente da Associação de Vítimas do Terrorismo (AVT), Ángeles Pedraza, disse que “já basta de tanto comunicado e de tantos avisos”, e que os terroristas da ETA devem fazer é entregar as armas, dissolver o grupo, cumprir suas penas e colaborar com a justiça.

A ETA é responsável por 856 assassinatos desde a campanha de terror iniciada em 1960 para conseguir a independência do País Basco da Espanha.

A COM foi constituída em 28 de setembro de 2011 e é composta por seis pessoas com experiência em processos de paz e em segurança: Ram Manikkalingam, Ronnie Kasrils (África do Sul), Ray Kendall (Reino Unido), Chris Maccabe (Reino Unido), Satish Nambiar (Índia) e Fleur Ravensbergen (Holanda).

A ETA mantém escondidas toneladas de material para fabricar explosivos e mais de 500 armas curtas e longas, segundo estimaram esta semana em declarações à EFE fontes da luta antiterrorista espanholas, assegurarando que a relação exata de material, assim como o número de ativistas na clandestinidade é uma incógnita para as forças de segurança. EFE

nac/ma

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