A esperança de um criminoso é a última que morre no STF
Ricardo Lewandowski fatiou a votação do impeachment de Dilma Rousseff em 2016 para salvar os direitos políticos da petista, mesmo com a perda do mandato.
O fatiamento feito pelo então presidente do STF veio após um acordão nos bastidores com o então presidente do Senado, Renan Calheiros, sempre muito solidário ao PT.
Eu mostrei na ocasião que uma prova de 2009 da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) havia considerado errado separar as perdas do mandato e dos direitos políticos.
Ou seja: se dependesse dessa questão, Lewandowski estaria reprovado.
Agora que um voto de Alexandre de Moraes na terça-feira indicou um placar no STF a favor da prisão após condenação em segunda instância, uma nova espécie de fatiamento está em jogo. Um novo contorcionismo. Mais um escambo.
O acordão aparentemente negociado nos bastidores é para que Lula abra mão de sua candidatura à presidência em troca da sua liberdade, ou seja: de que não seja preso.
A sinalização já veio alguns dias atrás. Como diz hoje o Valor: “Não é coincidência que o anúncio do novo advogado – Sepúlveda Pertence – tenha sido concomitante ao cancelamento do lançamento da pré-candidatura de Lula em Belo Horizonte e à ordem para baixar a bola da confrontação.”
Claro que a candidatura de um condenado, considerada até “irregistrável” pelo novo presidente do TSE Luiz Fux, é moeda de troca sem valor algum.
Claro que os 11 ministros do Supremo podem recusar o escambo e devorar Lula.
Mas a esperança de um criminoso é a última que morre no STF, se morrer um dia.
A própria escolha de Sepúlveda já sinaliza a esperança no supremo jeitinho brasileiro.
O criminalista, além de amigo e “padrinho” da indicação de Cármen Lúcia para o Supremo no governo Lula, ainda seria primo de terceiro grau da presidente do STF.
E mais: o filho de Sepúlveda é casado com a chefe de gabinete do ministro Luiz Fux.
A intenção da defesa de Lula de constranger e forçar Cármen Lúcia e Luiz Fux a se declararem suspeitos também já está sendo exposta nos portais de notícia.
Claro que seria um precedente absurdo, porque bastaria aos condenados arranjar advogados ligados aos juízes na tentativa de escapar da punição.
Além disso, tanto no CPP quanto no CPC há dispositivos – artigos 256 e 144, respectivamente – contra a declaração de suspeição nesses casos.
Mas o fato é que a defesa jurídica de Lula nunca existiu, e agora ele depende dos embargos auriculares de Sepúlveda Pertence, aquela conversinha no pé do ouvido dos seus ministros camaradas em busca de mais um fatiamento da Justiça.
Com o perdão do trocadilho, é à cadeia que Lula Pertence.
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