Debates na TV não causam mudanças significativas no cenário eleitoral
Os dois recentes debates presidenciais na TV não resultaram em mudanças significativas no cenário eleitoral revelado pelos institutos de pesquisa.
Jair Bolsonaro manteve a liderança no Ibope com 20 pontos, 8 a mais que Marina Silva, que aparece em segundo lugar com 12.
O levantamento foi realizado de 17 a 19 de agosto, ou seja: começou na última sexta-feira, dia do debate da RedeTV!, e terminou no domingo.
Pode ser até que não tenha captado integralmente a repercussão do enfrentamento dos candidatos, mas, diante do precedente da Band, que não alterou o cenário mesmo atingindo 6,2 pontos de audiência na Grande São Paulo com pico de 8, é difícil acreditar que o da RedeTV!, que teve apenas 3,4 com pico de 4,4, tenha exercido uma influência maior sobre o eleitorado.
O momento mais tenso foi justamente entre Bolsonaro e Marina.
A candidata da Rede disse que o do PSL não sabe o que é mulher receber menos que homem pelo mesmo trabalho e que ele acha que pode resolver tudo no grito.
Bolsonaro, que já havia dito na Globonews ser contra a intervenção do Estado no livre mercado, respondeu que Marina, mesmo sendo evangélica, quer plebiscito sobre maconha e aborto, e que não sabe o que é mulher ter família destruída pela droga.
Antes de Cabo Daciolo entrar em cena para dizer “Eu amo todos os senhores”, Marina alegou que “O Estado é laico” e Bolsonaro rebateu sugerindo que ela “Leia o Livro de Paulo”.
Ou seja: Marina tentou desgastar Bolsonaro com as mulheres para garantir a si própria esse eleitorado e Bolsonaro tentou desgastar Marina com os evangélicos e eventualmente também com os católicos, com o mesmo objetivo.
As mulheres representam 52,5% do total do eleitorado brasileiro, ou quase setenta e sete milhões, trezentas e trinta e oito mil pessoas. Os evangélicos representam 27% do eleitorado, ou cerca de 39,5 milhões de pessoas, sem contar os 80 milhões de católicos. Existe uma interseção aí, porque existem mulheres evangélicas e católicas, e existe também um monte de outros quesitos que elas e os demais eleitores consideram ao votar, mas cada um dos grupos é grande o bastante para levar Bolsonaro e Marina a trocarem farpas por não representá-los da devida maneira.
Ao contrário de Ciro Gomes, que tem evitado bater de frente com Bolsonaro, Marina, pelo visto, tentando ser mais clara e assertiva, vai insistir na polarização com o líder das pesquisas, na esperança de ganhar destaque para enfrentar Bolsonaro em segundo turno, concentrando os votos da esquerda, da maior parte possível das mulheres e dos demais eleitores que rejeitam o deputado.
Os adversários de Bolsonaro apostam que a ampla vantagem do deputado, se for mantida no primeiro turno, será facilmente revertida no segundo, enquanto os apoiadores de Bolsonaro apostam que a união do establishment no segundo só reforçará o discurso anti-establishment do deputado, como já vem fazendo FHC ao sugerir uma aliança entre PT e PSDB contra ele. Como o discurso de Marina é anti-polarização PT-PSDB, ela poderia, em tese, sair-se melhor que petistas e tucanos neste ponto.
Para Bolsonaro, o adversário ideal talvez seja o petista Fernando Haddad, contra quem poderia concentrar os votos antipetistas com maior facilidade que contra a ex-filiada ao PT Marina ou o ex-ministro do governo Lula Ciro. Mas Haddad, embora tenha subido para 15% em recente pesquisa da XP quando apresentado como o candidato de Lula, apareceu no Ibope com apenas 4% das intenções de votos, atrás ainda de Ciro, que tem 9, e de Geraldo Alckmin, que tem 7.
No dia 31 de agosto, começará o horário eleitoral gratuito, esperança de Alckmin, que tem o maior tempo de TV, para reverter esse quadro. Resta saber se, assim como em relação aos debates da Band e da RedeTV!, o eleitorado vai continuar indiferente.
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