É preciso cobrar dos candidatos mais planejamento que bravatas
Sempre que eu começo um artigo ou comentário sobre o tema desse meu destaque, eu digo o seguinte:
Tema mais debatido em Israel: fronteira.
Tema mais debatido na Europa: fronteira.
Tema mais debatido nos EUA: fronteira.
Tema mais debatido no Brasil: besteira.
O governo do PT foi absolutamente omisso, para não dizer conivente, em relação à entrada de armas, drogas e criminosos no Brasil; e o governo-tampão de Michel Temer esteve muito mais preocupado, em tese, em reequilibrar as contas públicas estouradas pelos petistas e, na prática, em salvar o presidente contra as duas denúncias da PGR.
A preocupação com as fronteiras apareceu agora, como um dos assuntos alegadamente discutidos em uma reunião de Temer com o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, fora da agenda oficial.
Eles teriam conversado sobre uma proposta de colocar agentes fardados da PF para atuar nas fronteiras brasileiras. Isso, na mesma semana em que o presidente tem de entregar as 50 respostas à PF sobre um inquérito que apura irregularidades na edição do Decreto dos Portos.
Fica difícil de acreditar em preocupação com a segurança nacional.
Quem felizmente anda se preocupando é o TCU, o Tribunal de Contas da União.
Um estudo relatado pelo ministro Augusto Nardes conclui o óbvio: criminosos ou foragidos da Justiça em outros países podem ingressar no Brasil sem qualquer dificuldade devido à fiscalização ineficiente das autoridades brasileiras.
O Brasil tem 7.363 km em linha terrestre e 9.523 km em rios, lagos e canais ao longo de 11 estados, como registra a Gazeta do Povo. Além dos inúmeros pontos ao longo dessas fronteiras, o ingresso de pessoas no país também ocorre em 37 portos públicos e 17 aeroportos internacionais.
Toda essa extensão de fronteiras somada à ausência de policiais nos locais e falta de um banco de dados mais eficiente para consulta são obstáculos para fiscalização de imigrantes no Brasil. Assim, é quase impossível fazer uma fiscalização mais incisiva do que e de quem entra no Brasil, deduz o documento do Tribunal de Contas.
Quem também anda se preocupando com as fronteiras brasileiras são os Estados Unidos, que agora investigam a conexão de um grupo criminoso paulista, o PCC, com uma ala paramilitar da organização política libanesa Hezbollah.
Pois é. José Casado escreve nesta terça-feira no Globo que os Estados Unidos aumentaram o número de agentes especializados em tráfico de drogas e terrorismo nas maiores cidades das fronteiras do Brasil com o Paraguai e a Bolívia, que somam 4,7 mil quilômetros.
Na região Oeste, dois dos maiores grupos criminosos brasileiros, o paulista PCC e o carioca CV, disputam a hegemonia no comércio de drogas em cidades da fronteira com o Paraguai e Bolívia. Ao Norte, na fronteira com Peru e Colômbia, paulistas e cariocas lutam com a amazonense FDN pelas rotas fluviais. É nesse ambiente que agências americanas (DEA, FBI e antiterrorismo) tentam confirmar elos da máfia paulista com a ala paramilitar do Hezbollah (…).”
Diante de todo esse quadro, registro também que, para 7 em cada 10 brasileiros, a segurança pública piorou, segundo uma pesquisa do Instituto Paraná noticiada ontem.
Mas, infelizmente, sempre houve um jogo de empurra-empurra entre o governo federal e os Estados sobre a responsabilidade pelo combate ao crime organizado. Um faz uma interpretação restritiva da Constituição para culpar os outros, como se narcotráfico e tráfico de armas não fossem crimes federais, transnacionais. Os outros reclamam que as armas e drogas chegam pelas fronteiras do país e eles só fazem enxugar gelo.
Com a corrupção dos políticos e sem um plano nacional de segurança, que una todos os poderes em favor da sociedade, o cidadão continua sendo roubado (duplamente), assassinado, e tendo suas famílias destruídas.
2018 é ano eleitoral e é preciso cobrar dos candidatos mais planejamento que bravatas. Porque, se tudo continuar como está, os Estados Unidos continuarão assumindo o papel do Brasil – isso, se a gente tiver sorte.
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