Felipe Moura Brasil: Amarelada de Renan é vitória da pressão popular
Foi um fim de semana divertido. O cinismo tem a sua graça.
Renan Calheiros já havia descumprido decisão de Marco Aurélio Mello quando o o ministro do STF o afastou da presidência do Senado.
Renan Calheiros já havia autorizado o plenário do Senado a decidir por maioria qual seria o modelo de votação sobre a prisão de Delcídio do Amaral, que resultou na escolha da votação aberta por 52 votos a 20 com uma abstenção, ainda que o regimento interno previsse votação fechada sobre prisão de senadores.
Renan Calheiros já havia reclamado da interferência de Luiz Edson Fachin no Senado quando o ministro do STF também decidiu a favor da votação aberta sobre a prisão de Delcídio – e aqui vale lembrar a frase de Renan: “Com todo respeito à separação dos poderes, não precisaria o Supremo Tribunal Federal decidir isso, como não nos cabe interferir na modalidade de votação interna do Supremo Tribunal Federal.”
Renan Calheiros já havia articulado com Ricardo Lewandowski o fatiamento da votação do impeachment de Dilma Rousseff em sessão do Senado presidida pelo então presidente do STF, que atropelou não o regimento interno, mas o artigo 52 da Constituição, ao salvar os direitos políticos de Dilma que deveriam ser retirados junto com o mandato.
Foi este mesmo Renan que, dessa vez interessado em obter os votos fechados de senadores que não votariam nele abertamente, defendeu na sessão de sábado a decisão tomada pelo presidente do STF Dias Toffoli durante a madrugada de anular a sessão de votação de sexta-feira no plenário que definiu, por 50 votos a 2, a votação aberta na eleição interna para a presidência do Senado. E este era o mesmo Toffoli que dizia defender a independência dos Poderes e não interferir no Legislativo.
Alvo de 14 inquéritos no STF, inclusive por corrupção e lavagem de dinheiro, Renan ainda disse que “não há eleição sem voto secreto porque teríamos influência deletéria da mídia, do poder econômico, do poder político, do Poder Judiciário. A democracia não caminha dessa forma”.
O emedebista Renan, como qualquer petista, esconde-se atrás de uma bandeira popular, como a democracia, fingindo defendê-la enquanto busca sua própria tábua de salvação no poder, dessa vez tentando esconder do povo o voto de seus representantes eleitos. Ele próprio abriu os precedentes para que o Senado alterasse regras, mas só aceita alteração quando não lhe é inconveniente.
Embora Toffoli, na ânsia de resolver o impasse sobre o modelo de voto, tenha criado outro dilema entre os senadores, o de acatar ou não sua decisão, o Senado acabou condescendendo com a votação fechada, que teve de ser realizada duas vezes em razão de uma aparente fraude na primeira apuração, a ser investigada.
Mas a pressão nos bastidores, no rádio, em sites e nas redes sociais para que senadores declarassem o voto gerou uma onda, inclusive entre tucanos com os quais Renan contava, que o levou a renunciar a candidatura quando sentiu que perderia para Davi Alcolumbre, do DEM, depois eleito com 42 votos.
A amarelada de Renan, hoje o maior símbolo da velha política que restou no Congresso, foi uma amostra de como a pressão popular – pacífica, digna, pela força da razão e até do humor – funciona.
Os brasileiros precisam permanecer vigilantes e recorrer mais a ela.
É assim que os políticos mais cínicos e deletérios acabam caindo pelo ridículo.
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