Felipe Moura Brasil: E as contas do PT?
André Ceciliano é o petista que apareceu no topo da lista do Coaf de deputados estaduais do Rio de Janeiro cujos assessores tiveram movimentações bancárias suspeitas.
Como comentei na semana passada, Ceciliano é o número um, com 49 milhões e 300 mil reais movimentados por quatro assessores; Flávio Bolsonaro é o 17, com 1 milhão e 200 mil movimentados pelo ex-motorista Fabrício Queiroz.
Em matéria de prioridade jornalística, é defensável que se dê maior atenção ao caso do filho de um presidente eleito, até porque a futura primeira dama recebeu 24 mil reais da conta suspeita, valor atribuído por Jair Bolsonaro, no caso, ao pagamento de uma dívida do ex-motorista com ele.
O que é indefensável é a absoluta indiferença aos demais casos, sobretudo o do primeiro colocado. André Ceciliano nem sequer é um deputado estadual como outro qualquer. É o atual presidente em exercício da Assembleia Legislativa do estado, porque Jorge Picciani foi preso e o primeiro vice-presidente Wagner Montes vem renovando uma licença médica a cada 30 dias. Ceciliano, como segundo vice-presidente, ou seja, o interino do interino, assumiu o posto.
O máximo de explicação dele que a Folha publicou foi que a assessora que concentra as movimentações atípicas “pertence a uma família de empresários da cidade de Paracambi”, onde o petista foi prefeito por dois mandatos. A assessora, deduzo, é Elisângela Barbieri, que movimentou 26 milhões e 500 mil reais em sua conta.
A explicação é insatisfatória, porque, ainda na hipótese curiosa de que ela movimenta milhões de reais da família e mesmo assim atua como assessora de Ceciliano, os três outros assessores, Carlos Alberto Dolavale, Benjamim Barbieri e Ana Paula Pereira Alves, teriam movimentado juntos 22 milhões e 800 mil reais.
São todos de família de empresários? Qual é o parentesco de Elisângela e Benjamin? A imprensa não vai verificar? Está exclusivamente interessada no parentesco dos assessores de Flávio Bolsonaro? Eu me interesso por todos.
Nas redes sociais, Ceciliano não deu uma palavra sobre a menção do Coaf. Apenas divulgou um resumo dos trabalhos na Alerj nos últimos dias e convocou a população a participar da Agenda do Futuro, realizada hoje para, segundo ele, “aproximar as demandas da sociedade organizada com o legislativo estadual”. As demandas dos cidadãos e da imprensa deveriam ser de explicações do deputado.
Até porque o PT já tem histórico de suspeitas de envolvimento em pedágio ou caixinha parlamentar, também chamado de “esquema Rachid”, em que funcionários de gabinetes são instados a devolver uma parte do salário que recebem como contrapartida à própria contratação. A atual deputada federal Érika Kokay, por exemplo, já foi denunciada pela PGR por fatos relativos ao período em que era deputada distrital na Câmara do Distrito Federal.
A ex-funcionária Vânia Gomes confessou em depoimento que o chefe de gabinete de Erika Kokay lhe convidou para uma nova função, com acréscimo salarial, mas deixou claro que deveria haver devolução de parte da diferença salarial. A quebra do sigilo bancário confirmou repasses de ao menos 13 mil reais da assessora para a conta da petista.
Em primeira instância, a Justiça rejeitou a denúncia, mas não por falta de provas, e sim sob o argumento de que os fatos, ocorridos há mais de uma década, eram antigos e que haveria prescrição. O Ministério Público do Distrito Federal recorreu, no entanto, e o processo está agora no Tribunal de Justiça.
O Globo, pelo menos, listou este e ainda outros casos semelhantes de denúncias da PGR contra o ex-ministro de Lula, Dilma e Temer Geddel Vieira Lima e seu irmão e deputado Lúcio Vieira Lima, ambos do MDB; o deputado Adalberto Cavalcanti, do Avante; e o senador Sérgio Petecão, do PSD.
Embolsar parte do salário de assessores é prática comum nas casas legislativas, o que obviamente não quer dizer que não deva haver punição aos envolvidos.
Até agora não há prova de irregularidade de Flávio Bolsonaro e André Ceciliano, mas Fabrício Queiroz e Elisângela Barbieri ainda têm de ser ouvidos, assim como os demais assessores e ex-assessores de ambos os deputados, que poderão ou não ser isentados de qualquer culpa por eles, assim como o presidente eleito.
Mas do mesmo modo que a apuração do Ministério Público deve ir além da coleta de depoimentos, cabe a jornalistas uma cobrança de explicações geral e irrestrita.
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