Felipe Moura Brasil: Imprensa busca bala de prata contra Bolsonaro
A 12 dias do primeiro turno da eleição, o portal da Folha de S. Paulo destacou a seguinte manchete sobre o líder das pesquisas:
“Ex-mulher afirmou ter sofrido ameaça de morte de Bolsonaro, diz Itamaraty”.
Subtítulo: “Segundo documento de 2011, Ana Cristina afirmou à embaixada brasileira que saiu do Brasil por causa do deputado”.
O documento é um telegrama, que dizia – aspas –: “A senhora Ana Cristina Siqueira Valle disse ter deixado o Brasil há dois anos [em 2009] ‘por ter sido ameaçada de morte’ pelo pai do menor [Bolsonaro]. Aduziu ela que tal acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país [Noruega].”
Bolsonaro e a ex-mulher travavam uma disputa judicial sobre a guarda do filho do casal, então com cerca de 12 anos.
O impacto da manchete, explorado pela turma anti-Bolsonaro na internet, vai se diluindo, no entanto, para quem se dá ao trabalho de ler a íntegra da matéria.
No quinto parágrafo, a Folha informa que a ex-mulher de Bolsonaro considera “superado” o episódio – ou seja, até aí o jornal dá a entender que houve de fato uma ameaça, que estaria apenas superada.
É só no décimo oitavo parágrafo que Ana Cristina realmente fala. E ela diz que o telefonema dado pelo pessoal da embaixada brasileira em Oslo, na Noruega, foi para seu marido norueguês, e não para ela.
O leitor da Folha precisa então combinar essa informação com outras dos parágrafos anteriores para entender o seguinte:
O registro de ameaça em telegrama foi feito pelo então embaixador Carlos Henrique Cardim, com base em informações que lhe foram passadas pelo vice-cônsul do Brasil em Oslo, que supostamente falou com Ana Cristina, que diz, no entanto, que o contato foi com seu marido norueguês.
No vigésimo parágrafo é que finalmente se lê que a ex-mulher de Bolsonaro disse não ter falado com nenhum cônsul ou vice; e que, questionada pela Folha se houve ameaça de morte de Bolsonaro contra ela, respondeu que havia conversado com seu marido norueguês e ele “falou que não disse nada disso”.
“Acho que vocês estão pegando pesado falando isso”, escreveu ainda Ana Cristina para o jornal pelo celular, obviamente em vão.
Após a divulgação da matéria, a ex-mulher de Bolsonaro disse ao Correio Braziliense – aspas: “Nunca fui ameaçada de morte por ele. Eu não fui contatada pela embaixada na época. O governo da Noruega [é] que ligou para o meu marido, que hoje mora comigo aqui no Brasil. Hoje eu mantenho uma relação boa com Bolsonaro. Toda separação é meio difícil. Existem mágoas, um pouco de brigas, e na minha não foi diferente. Mas hoje em dia estamos muito bem.” Fecho aspas.
Ana Cristina acabou publicando também um vídeo nas redes sociais para desmentir a ameaça citada pela Folha e dizer que Bolsonaro não tem essa índole, que é um bom pai e, nas palavras dela, que essa mídia suja só quer denegrir a imagem dele, porque ele está em primeiro lugar nas pesquisas.
“Não adianta, nada vai fazer com que ele caia”, afirmou ela, dizendo acreditar que Bolsonaro vencerá no primeiro turno.
Aparentemente, é melhor mesmo a imprensa procurar outra bala de prata contra o líder da corrida eleitoral, porque essa não durou nem uma noite.
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