Felipe Moura Brasil: Mano Brown expõe desafinação do PT
A escola Cid Gomes de sincericídio formou mais um aluno.
Mano Brown, líder do grupo Racionais MC’S, estragou o clima de festa do comício de Fernando Haddad na noite de terça-feira, no Rio de Janeiro.
Dizendo que não é pessimista, mas realista, ele ousou fazer aquilo que Fernando Haddad, Ciro Gomes, a maior parte da esquerda política e até da imprensa não ousaram: o rapper humanizou, pelo menos, os eleitores de Jair Bolsonaro.
“Não consigo acreditar que pessoas que me tratavam com carinho, pessoas que me respeitavam, me amavam, que me serviam café da manhã, que lavavam meu carro, que atendiam meu filho no hospital, se transformaram em monstros. Não posso acreditar nisso. Essas pessoas não são tão más assim.”
Mano Brown, a seu jeito, está certíssimo neste ponto. Bolsonaro e, com frequência, seus eleitores foram xingados, de modo genérico e irresponsável, de extremistas, fascistas e nazistas durante toda a corrida eleitoral, sem que se buscasse entender suas demandas e seus motivos de insatisfação e revolta contra o establishment.
O rapper então disse que a comunicação é a alma.
“Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo. Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão, que não está aqui, que precisa ser conquistada.”
Como venho dizendo há meses, Bolsonaro fala a língua do povo, ao contrário dos tucanos que disputaram as últimas 5 eleições presidenciais, inclusive esta.
O PT perdeu essa capacidade de falar para fora de sua tribo, porque não se pode roubar um povo nos maiores escândalos de corrupção da história do país e ao mesmo tempo cobrar dele como um dever moral o voto para o retorno ao poder.
Mas sempre foi assim que Lula encarou o voto nele e em seus aliados. “Votar no Sérgio Cabral é quase que uma obrigação moral”, disse Lula quando fez campanha para o ex-governador criminoso do Rio de Janeiro e atual presidiário. A diferença é que os crimes de toda essa turma foram descobertos e expostos pela Lava Jato e outras operações.
E um poste de Lula como Haddad não pode fazer autocrítica do PT, porque uma autocrítica verdadeira comprometeria o chefão que comanda sua campanha da cadeia. Então resta a Haddad um discurso cínico que aposta na ignorância e na transigência dos brasileiros.
Mano Brown sentiu que o rap petista está fora do tom. Para um membro da tribo, já é muita coisa.
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