Felipe Moura Brasil: Marina saiu do PT, mas o PT não saiu dela

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 31/08/2018 09h09
EFE/Joédson Alves Marina posar de vítima de um preconceito genérico é só uma forma de diluir nesse preconceito as críticas que ela recebe

Foi mais ou menos assim a entrevista de Marina Silva ao Jornal da Nacional:

Qual é sua posição? Tem que dialogar. Mas o que a senhora acha, candidata? Acho que o diálogo é importante. Mas não houve tempo para tirar uma conclusão sobre o tema? Numa democracia, o normal é dialogar. E o que a senhora vai fazer no governo? Dialogar.

Terminada a entrevista, perguntei aos colegas ao redor se algo havia ficado na cabeça deles sobre o que Marina disse que faria se eleita. Eles disseram: dialogar.

Até com os parlamentares que abandonaram seu partido, a Rede, criticando a inexistência de posicionamento sobre problemas graves para o Brasil, Marina disse… que mantém o diálogo.

Êta candidata dialogadora.

Alguém precisa avisar Marina que, no caso de reformas como a da Previdência, em que ela não define em seu plano de governo nem a idade mínima de aposentadoria, há uma certa urgência em conseguir a aprovação que o governo de Michel Temer não conseguiu. As contas públicas agradecem se o diálogo não demorar muito.

Curiosamente, Marina ainda soltou a seguinte declaração: “Eu sou a única candidata que diz que apoia a Lava Jato.”

Como assim, Marina? Dizer que apoiam a Lava Jato, todos dizem. Apoiar, alguns apoiam. A senhora não tem dialogado com outros candidatos?

Só falta alegar que se referia exclusivamente às candidatas mulheres. Depois da saída da comunista Manuela D’Ávila para ser suplente de vice do presidiário inelegível Lula, só sobraram mesmo Marina e a socialista Vera Lúcia, do PSTU. Mas aí é contorcionismo retórico demais para se vangloriar. Não vale. Ainda mais para quem dialoga tanto.

Nas considerações finais, Marina afirmou “Eu sou mulher, sou negra, fui seringueira”, mas em seguida disse que há muita gente que acha que, em razão dessa trajetória, ela não tem capacidade para ser presidente da República.

É um discurso vitimista à moda Lula. Só reforça a tese de que Marina saiu do PT, mas o PT não saiu dela.

Capacidade se mostra. Posicionamento, também. Valorizar a trajetória e a superação de adversidades é justo, mas Marina posar de vítima de um preconceito genérico é só uma forma de diluir nesse preconceito as críticas que ela recebe, por exemplo, por ficar sempre em cima do muro – como se lá do alto todo diálogo chegasse a algum lugar.

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