Marina e Bolsonaro: velhos políticos em campanha contra a velha política
Se a eleição presidencial fosse hoje, Jair Bolsonaro (com 18% das intenções de voto) e Marina Silva (com 13%) iriam para o segundo turno.
De acordo com a pesquisa do Datafolha, a ex-ministra do Meio Ambiente no governo do PT ainda venceria o deputado por 42% a 32% dos votos, mas a distância entre os dois diminuiu bastante: de 18 pontos em setembro para apenas 10 em janeiro.
Nos Estados Unidos, Hillary Clinton aparecia ainda mais à frente de Donald Trump, com 12 pontos de vantagem nas pesquisas, mas Trump acabou vencendo a disputa.
A mais de 8 meses da eleição no Brasil, ainda é muito cedo, portanto, para cravar que Marina vencerá Bolsonaro, atualmente o líder no primeiro turno, em cenários sem o inelegível condenado Lula.
Quando Marina anunciou sua pré-candidatura, comentei aqui que ela apostava na inelegibilidade de Lula por um lado e na rejeição a Bolsonaro por outro para aparecer como uma opção supostamente moderada que já tem o recall de eleições anteriores e capacidade de angariar apoio dos eventuais partidos derrotados de Centro.
Hoje Marina lidera a disputa pelo espólio de Lula, herdando 15% dos votos do condenado, enquanto Ciro Gomes herdaria 14% e Bolsonaro 7%, mais do que o poste petista Jaques Wagner, que herdaria apenas 4%.
É uma situação curiosa: ao mesmo tempo em que busca atrair o eleitorado lulista, a ex-ministra vem mantendo uma postura de distância de seu ex-chefe em relação ao processo do triplex no Guarujá.
A Rede chegou a divulgar uma nota que concluía que “todos são iguais perante a lei”, ou seja: o que Marina vem fazendo é dar declarações mais genéricas de apoio à Lava Jato e repúdio ao comportamento do PT e de outros partidos que se uniram contra a operação, sem centrar fogo diretamente em Lula.
Para aliados, segundo o Estadão, Marina terá justamente de modular o discurso para atrair a maior parcela dos simpatizantes do condenado.
Já Bolsonaro não mede palavras para se referir ao petista. O deputado disse ao jornal: “O Lula saindo quem vai ser mais beneficiado numa pesquisa isenta vai ser eu. É o meu sentimento. Nesse debate quem é que pode chamar quem de ladrão? Acho que só eu.”
No eventual segundo turno contra Marina, especialmente se os demais partidos a apoiarem, Bolsonaro decerto tenderia a reforçar seu discurso contra o sistema, apontando a ex-ministra como uma candidata do establishment político.
Enquanto Ciro atinge apenas 10% e Luciano Huck e Geraldo Alckmin empatam com 8%, sem que haja uma coligação de centro definida, Bolsonaro e Marina vão correndo tranquilamente por fora.
Ambos são velhos políticos, em campanha contra a velha política.
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