O que é, afinal, ser “a favor dos caminhoneiros”?

EFE/Joédson Alves Manifestante em apoio à greve dos caminhoneiros ostenta bandeira do Brasil em Luziania, Goiás, na última sexta

A necessidade de aderir a um lado em discussões públicas é um dos fatores que mais complicam a compreensão dos elementos em jogo nessas discussões.

Ser a favor ou contra algo, como a greve dos caminhoneiros, ou a política de preços da Petrobras, antes de compreender o que é esse algo em todas as suas nuances, geralmente serve apenas para afetações de bom-mocismo.

O que é ser a favor dos caminhoneiros em greve, além de uma hashtag?

É ser a favor daqueles que protestam contra os impostos embutidos no preço do diesel para sustentar os gastos do Estado inchado, incluindo os privilégios da elite do funcionalismo público?

É ser a favor daqueles que cobram do governo uma intervenção na política de preços de uma estatal com a redução desses impostos, nem aí se o governo, a fim de compensar a perda de arrecadação, aumentar outros impostos para os demais cidadãos, incluindo os que apoiam esses caminhoneiros?

É ser favor daqueles que bloqueiam estradas, causando o desabastecimento de combustível, alimentos, remédios e insumos hospitalares pelo país?

É ser a favor daqueles que exigem intervenção militar para deixar a paralisação de lado?

É ser a favor daqueles que, insuflados também pela militância petista, exigem o “Fora Temer” a quatro meses da eleição presidencial para abandonarem a greve?

Ou é ser a favor daqueles – onde estão eles? – que defendem um processo de privatização da Petrobras, em prol de uma livre concorrência entre empresas privadas no setor de petróleo que possa resultar na oferta de preços melhores?

Um debate público em que não se distinguem as correntes dentro de um movimento e em que se encaram categorias inteiras como a dos caminhoneiros apenas pelo sentimento que a figura genérica deles evoca no imaginário é um debate histérico, onde se demonizam ou se canonizam abstrações.