Para vencer eleição, é preciso pregar para não convertidos

  • Por Jovem Pan
  • 25/07/2018 10h20 - Atualizado em 25/07/2018 10h31
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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO Todo político que desperta grandes esperanças desperta também alguma dose de fanatismo

Atuar para diminuir a rejeição a um candidato não requer que simpatizantes deixem de combater inimigos dele, mas que deixem de implodir pontes por onde possam chegar novos eleitores.

Persuadir é diferente de combater. Combatem-se inimigos. Persuade-se a plateia. “First you win the argument, then you win the vote”, ensinava Margaret Thatcher. (“Primeiro você ganha a discussão, depois você ganha o voto.”)

Se você adota os mesmos comportamentos que os inimigos, especialmente se diz desprezar esses comportamentos, a plateia não os distingue de você.

Aos olhos dela – ou seja: da população do país –, seu grupo será visto como tão cínico e autoritário quanto o dos adversários. E em duelo de cínicos autoritários, os originais levam vantagem.

Alas fanáticas entre simpatizantes de candidatos implodem pontes porque estão focadas em combater inimigos a todo custo, não em ganhar uma eleição para dispor de meios de ação melhores.

O fanatismo, com frequência, leva essas alas a enxergar um inimigo em qualquer pessoa da plateia que tenha adotado uma posição comum a ele, ou em qualquer pessoa não antipática ao candidato que simplesmente se recuse a agir como elas, mesmo que defenda bandeiras comuns e também combata seus inimigos.

O resultado disso é que, sob a alegação de que “política é guerra”, os fanáticos só pregam para convertidos, ou seja: estendem cegamente seu combate, na prática, a todos os membros da plateia com potencial de serem persuadidos a votar em seu candidato.

Todo político que desperta grandes esperanças desperta também alguma dose de fanatismo, mesmo que em parcela minoritária de seus seguidores; e ele não é culpado por isto (que inexiste entre os seguidores daqueles que não despertam esperança alguma).

Quando candidato, porém, cabe ao político usar sua autoridade de líder para conter as alas fanáticas que o seguem, caso julgue que elas mais comprometem sua vitória do que contribuem para ela (ou, mesmo que não seja candidato, quando essas alas cometem ou estão na iminência de cometer quaisquer atrocidades).

Corporativismo é, também, fingir que não há qualquer ala perversa dentro de um grupo ao qual você pertence. Ainda que seja intimamente, reconhecer a existência (e se descolar de) fanáticos é o primeiro passo para aprimorar o grupo e conseguir novos adeptos.

Só há dois tipos de pessoas que se sentem ofendidas quando se fala sobre minorias fanáticas dentro do seu grupo: os fanáticos (por vestirem a carapuça) e os corporativistas (por julgarem que a fraqueza do grupo será exposta se consentirem).

O resto acha ótimo. O resto quer mais é vencer.

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