Que a saída de Joaquim Barbosa traga mais luz sobre rótulos mal aplicados

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 09/05/2018 09h42 - Atualizado em 09/05/2018 09h43
EFE/JOÉDSON ALVES/Arquivo Ex-ministro do STF Joaquim Barbosa quando se reuniu com a cúpula do PSB em Brasília em 19 de abril

A candidatura presidencial de Joaquim Barbosa pelo Partido Socialista Brasileiro era a última esperança de boa parte da imprensa e do mercado, que não queria a chamada polarização entre o atual presidiário inelegível Lula ou um candidato apoiado por ele e Jair Bolsonaro, colocados, respectivamente, como extremistas de esquerda e de direita.

As candidaturas de Marina Silva, derrotada nas últimas campanhas, e de Geraldo Alckmin, que não decolou nessa, não empolgam essa parcela, de modo que o ex-ministro do STF – eleitor confesso de Lula e Dilma Rousseff e que, depois de aposentado, ainda foi contra o impeachment da petista – poderia ocupar o espaço de suposto centro, não ocupado pelo apresentador Luciano Huck, a esperança anterior.

Não deu certo.

Barbosa, assim como Huck, anunciou que não será candidato à Presidência, e agora jornalistas e analistas financeiros terão de se contentar com o quadro eleitoral restante, assim como os institutos de pesquisa que incluíram o ex-ministro em todos os cenários dos levantamentos recentes, destinados, portanto, à lata de lixo.

Antes que apareça uma nova esperança de suposto centro, no entanto, chamo a atenção para a distorção da identificação ideológica no debate político brasileiro, onde cada político de centro-esquerda à direita é empurrado mais para a direita do que realmente é.

Ou seja: é pela lente da esquerda, ainda dominante no espaço cultural, que se rotulam ideologicamente os potenciais candidatos e demais participantes do debate público.

Eis o resumo do quadro distorcido:

  • A “extrema-esquerda” não existe, nunca é chamada pelo nome.
  • A chamada “esquerda” é, na verdade, o grupo que vai desde os extremistas de esquerda, que apelam à violência para cobrar mais Estado, até a esquerda corrupta, que defende criminosos, incluindo seus aliados de extrema-esquerda.
  • O chamado “centro” é o grupo que vai desde a esquerda pragmática, que defende o estatismo com ligeiras concessões ao mercado, como uma ou outra privatização para fazer caixa em tempos de crise, até o centro fisiológico, que se alia à esquerda para ter poder, mas ergue bandeiras liberais e eventualmente até conservadoras quando precisa se descolar da esquerda corrupta com a qual se aliou. O atual “centro”, no entanto, é também chamado de “direita” pela atual “esquerda”.
  • A chamada “direita” é o grupo que vai desde o atual “centro”, na visão da atual “esquerda”, até os ditos liberais, sem compromisso com bandeiras conservadoras nos costumes.
  • A chamada “extrema-direita” é grupo que vai desde os políticos tradicionalmente estatistas, mas que erguem bandeiras conservadoras nos costumes, tratando bandido sem complacência, até os conservadores propriamente ditos, na linha dos conservadores americanos e ingleses.

Quase todo o noticiário que você lê, ouve e, principalmente, assiste hoje no Brasil embute esses conceitos deturpados, que servem à camuflagem de uns e à demonização de outros. Seria ótimo se os debates eleitorais entre os presidenciáveis trouxessem mais luz sobre os verdadeiros perfis dos candidatos do que os rótulos mal aplicados pela imprensa, pelo mercado, por inocentes úteis e até por eles próprios.

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