Eleições no Brasil foram exaltação ao moderado

Não existe mocinho na política brasileira, mas é ótimo que a ponderação e o meio-termo sobrepujem o discurso utópico da esquerda e o odioso da direita

  • Por Fernanda Consorte
  • 30/11/2020 14h35
Alisson Sales/Estadão Conteúdo - 29/11/2020 Bruno Covas caminha ao lado de Fenando Henrique Cardoso no dia do segundo turno; prefeito de São Paulo ganhou com discurso de ponderação

Política é um assunto controverso, gera briga desfundamentada e me cansa. Por isso, penso dez vezes antes de entrar numa conversa sobre esse tema ou até de escrever sobre isso. Mas, dentre essas incongruências da vida, eu escolhi como ganha-pão a macroeconomia, que anda de mãos dadas e atadas à política. Por isso, raramente escapo de ter que analisar um determinado ato ou situação, e pior, dificilmente escapo de ser obrigada a ter uma opinião sobre isso. Feito o introdutório, acho que vale conversarmos sobre o que o resultado das eleições municipais sugere – podemos falar sem exaltações? Bom, em poucas palavras houve um avanço importante e majoritário de prefeituras de partidos de centro no Brasil. Ou seja, após as eleições presidenciais, altamente polarizadas, me parece que o discurso do meio-termo e da ponderação começa a ganhar mais corpo.

Vejam, o PSDB mais MDB mais DEM mais PSD ocuparam 50% das cadeiras de prefeituras no Brasil, com ganhos nas capitais mais importantes como São Paulo e Rio de Janeiro, considerando população, orçamento e projeção política. Eu acho que isso é um sinal de mudança, pesando em o que seria uma mudança na política arcaica brasileira. Primeiro ponto a considerar é que o nosso presidente, Jair Bolsonaro, saiu às ruas apoiando uma série de candidatos a prefeito que, mesmo que não sejam ligados a um único partido (até porque o presidente, neste momento, não tem partido), são, em sua maioria, de perfis da direita conservadora, como é a vertente principal do chefe da nossa nação. Acontece que nenhum deles foi eleito, e isso sugere que nosso presidente tem perdido força. Lembrem, por exemplo, do auge do governo Lula: bastava um candidato estampar sua foto ao lado do carismático Luiz Inácio Lula da Silva que suas chances aumentavam consideravelmente. Não foi o que ocorreu com Bolsonaro, e casa, inclusive, com recentes pesquisas de popularidade que mostraram aumento importante de desaprovação do governo federal.

Em segundo lugar, o crescimento dos partidos do centro, em detrimento a siglas de extrema esquerda ou direita, mostra que o pragmatismo falou mais alto. Longe, ou melhor, muito, muito distante da perfeição, os candidatos que foram eleitos pela população dos municípios parecem ter o pé mais próximo da realidade, com palavras (ao menos em seus discursos) de diversidade, compromisso social e um olhar um pouco mais crítico a orçamentos e infraestrutura. À primeira vista, do que vi e li, os discursos são menos utópicos como os da esquerda e menos odiosos como os da direita – o que, vale a menção, no final acabam sempre na mesma história: populismo, gerando perda de eficiência à sociedade.  Por fim, eu acho que o resultado dessas eleições é uma luz no fim do túnel, ainda que seja um pequeno vaga-lume, para as eleições de 2022, que já já bate à nossa porta. Vejam, não sou ingênua em achar que os partidos de centro são os “mocinhos da história”, pois a verdade é que a política brasileira não é constituída de mocinhos. A ganância sempre falará mais alto em qualquer cadeira de poder, em qualquer inclinação política. Porém, o que o Brasil não aguenta mais é o discurso de “nós contra eles”. O bom-senso, a moderação e a ação são do que estamos sedentos nesse momento. Vamos deixar os extremos em seus lugares de valor, que é o de mostrar os erros abissais que estão ocorrendo, com sua retórica exagerada, para, a partir daí, o moderado absorver críticas e ajustar sem colapso, sem o ódio.

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