Mesmo com bom momento da Bolsa, taxa de câmbio sugere que Brasil ainda não é principal escolha para investimento

Contas fiscais apertadas, inflação alta, pedindo forte ajuste nas taxas de juros, e baixa perspectiva de crescimento econômico em ano de eleições são fatores que aumentam as incertezas

  • Por Fernanda Consorte
  • 22/02/2022 14h36
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Pixabay Notas de dólar espalhadas Fluxo financeiro permitiu que a taxa de câmbio ficasse abaixo de R$ 5,10 nos últimos dias

O fluxo financeiro aumentou muito no último mês, refletindo o apetite as ações das empresas brasileiras, e deu força para a taxa de câmbio baixar dos US$/R$ 5,10, após fechar 2021 em US$/R$ 5,70. De forma geral, segundo dados recentes da Unctad, o fluxo de investimento direto estrangeiro global se recuperou fortemente em 2021 (+77%), e segue em 2022, mas com movimento desigual entre regiões e países. A perspectiva de final de pandemia ao longo de 2021 e, portanto, de melhora nas perspectivas econômicas no mundo diminuiu a aversão ao risco. Um exemplo disso foi o aumento considerável de fusões e aquisições no período. As economias desenvolvidas tiveram o maior aumento, com destaque também para Ásia. A América Latina teve um crescimento percentual até maior que a Ásia (cerca de 50% acima de 2020), trazendo o nível de IED próximo-mas-inferior ao pré-pandemia. Do mesmo modo, o Brasil viu o IDE dobrar em 2021, mas as entradas permaneceram abaixo dos níveis pré-pandemia. 

Localmente, a melhora do fluxo veio marcada por entradas no mercado acionário, o que se intensificou no início de 2022. Situação que não ocorria antes da crise. Mas, conforme o apetite a risco foi voltando, o capital se concentrou em títulos de dívida e em ações. Embora o patamar da Bolsa de Valores esteja alto, perto do observado no pré-crise (ao redor de 110 mil pontos), e a valorização do real ante o dólar ajudou nas últimas semanas, o nível da taxa de câmbio ainda está alto, e portanto, conjunturalmente, sugere que algo ainda está errado e tem espaço para ajuste. Quero dizer que o nível da taxa de câmbio ainda sugere que, a despeito de um bom momento na Bolsa de Valores, e o aumento recente do fluxo de capital no Brasil, nosso país ainda não é a principal escolha como alocação de investimento e capital. A decisão desse fluxo de capital virá por uma história positiva a ser contada, o que ainda não temos. As mazelas brasileiras ainda estão aí. Para resumir a conjuntura brasileira em um parágrafo: contas fiscais apertadas, inflação alta, pedindo forte ajuste nas taxas de juros, e baixa perspectiva de crescimento econômico. Tudo isso num ano de eleições presidenciais, que naturalmente já aumenta incertezas. 

E para quem acompanha o mercado de câmbio, a palavra incerteza vem acompanhada de diminuição de fluxo de investimentos, sobretudo para países emergentes e mais arriscados. Ora, não é para menos, quando estamos em um ambiente de incerteza, nada melhor que seu porto seguro, não é mesmo? Por consequência, a evolução da taxa de câmbio está altamente ligada ao fluxo de investimentos para o país. Quanto maior o fluxo, mais provável que a taxa de câmbio caia, e o inverso também é verdadeiro. Assim, olhando nosso calendário econômico, tanto o fluxo de capital como a taxa de câmbio podem sofrer fortes oscilações nos meses à frente. Porém, passada a fase de incertezas, acredito que seja possível ver a taxa de cambio abaixo de US$/R$ 5,00 pós-eleições — mas, de novo, depende da história que será contada, do resultado das urnas, e por aí vai…

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