O Brasil da confiança abalada, do crescimento prejudicado e da taxa de câmbio alta

Não é à toa que as projeções do mercado para o PIB do país em 2021 seguem estacionadas em torno de módico 1,5%

  • Por Fernanda Consorte
  • 05/10/2021 17h22
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Luciano Claudino/Código19/Estadão Conteúdo Mulher de vestido observa vitrine de loja de brinquedos em rua do centro de Campinas Confiança do consumidor está em queda diante de incerteza na economia

Começo esta coluna falando sobre os indicadores de confiança e porque são tão importantes. A disposição do consumidor em comprar e demandar produtos e serviços, bem como a intenção do empresário em investir ou não, são parte da engrenagem para o funcionamento da economia. Por isso, os indicadores de confiança são fundamentais para qualquer análise sobre o mercado. Já dizia o velho ditado: “A confiança é difícil de ter, difícil de manter, muito fácil de perder e, uma vez perdida, quase impossível de se recuperar”. 

Por conta da pandemia, os indicadores de confianças do empresário e do consumidor registraram uma forte queda no ano passado. Apesar de já terem recuperado uma grande parte dessa perda, ainda não voltaram aos patamares de antes da crise e, pior, parecem ter voltado a cair novamente. Segundo dados da FGV, o Indicador de Incerteza da Economia Brasileira (IIE-Br) subiu 14,3 pontos de agosto para setembro, alcançando 133,9 pontos. Foi o maior salto da incerteza da economia desde abril de 2020, auge da pandemia. Com isso, atingiu o maior nível desde março. Esse indicador é formado tanto por um termômetro de notícias na mídia que sugerem incerteza quando por expectativas, dispersões de projeções para câmbio e inflação (afinal ambas variáveis exemplificam o retrato do Brasil). 

Entre os fatores que contribuíram para a alta estão as diversas crises do momento — política, institucional e hídrica —, o cenário fiscal sempre indefinido, a inflação ascendente e, mais recentemente, as revisões para baixo do crescimento da China, nosso maior parceiro comercial. Esse movimento parece dissipado entre todos os principais setores da economia. Vejam, ainda segundo a FGV, a confiança da indústria: caiu em setembro para 106,4 pontos, o que marcou a segunda queda consecutiva, e a confiança de serviços, com dois pontos de queda em setembro ante agosto, indo para 97,3 pontos. 

Não à toa, as projeções do mercado para o PIB em 2021 seguem estacionadas em torno de módico 1,5%. Com todos esses pontos conjunturais negativos (inflação, crises institucionais, incertezas eleitorais, fiscal etc.), dificilmente a confiança convergirá para média 2015-2019 (pré-crise). Não era fantástica, mas estávamos em melhores condições. O paralelo também é possível ser feito com o patamar médio da taxa de câmbio, que entre 2015 e 2019 foi de US$/R$3,5 e nos últimos dois anos subiu para US$/R$ 5,2. Enquanto esses indicadores de confiança não evoluírem, vai ser difícil vislumbrar uma melhora mais robusta da economia como um todo. E o mesmo raciocínio serve para a taxa de câmbio.

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