Países deixam o Brasil de lado, e taxa de câmbio segue pressionada

Pronunciamentos de Bolsonaro têm causado alguns desafetos, pois entendem que a postura pode piorar no combate à Covid-19; autoridades norte-americanas já se dizem em alerta

  • Por Fernanda Consorte
  • 09/03/2021 09h00
Pixabay Notas de dólar espalhadas Taxa de câmbio tem alcançado os R$ 5,70 com frequência

Olhando o “feed” do Instagram e as notícias, o Brasil absorve com horror a piora da pandemia de Covid-19 no Brasil e o descaso do presidente da República ao usar a expressão “mimimi” na semana passada para falar sobre o tema. Porém, devo ter um forte viés de amostra porque as pesquisas cismam em mostrar que esse sentimento ainda não chegou a cerca de 30% da população brasileira que, segundo as últimas pesquisas, ainda avaliam o atual governo como ótimo ou bom. O fato dessa vez é que o mercado parece ter cansado dessa postura. Retificando, o mercado internacional, exemplificado pelos investidores estrangeiros, já davam de ombros ao Brasil antes da crise, quando já começamos a observar quedas de fluxo de capital ao país em resposta a pronunciamentos “equivocados”. Agora então, o estrangeiro parece que está adquirindo uma espécie de “ojeriza” ao Brasil, forçando a nossa taxa de câmbio alcançar constantes R$ 5,70.

É verdade que nas últimas semanas tivemos um movimento das taxas de juros longas dos EUA, que antevendo uma recuperação norte-americana que pode gerar inflação, gerou uma pressão nas taxas de juros. Maior taxa de juros nos EUA é igual a tirar dinheiro de país emergente e, por consequência, aumento nas taxas de câmbio dos países menos afortunados. Porém, o Brasil tem conseguido se superar. Por exemplo, em 2020 a retração dos investimentos estrangeiros foi maior no Brasil do que em outros países emergentes. O Banco Central do Brasil mostrou que em 2020 o investimento direto no país somou US$ 34,2 bilhões contra US$ 69,2 em 2019, ou seja, uma queda de 50,6%. Segundo a Unctad, essa redução foi de apenas 8% no México. 

Nesses primeiros meses de 2021, me parece que o quadro vai se agravar. Os pronunciamentos de nosso chefe de Estado têm causado alguns desafetos, pois entendem que a postura pode piorar no combate à Covid: autoridades norte-americanas já se dizem em alerta e entendem a situação da pandemia no Brasil como um problema do mundo. Alguns países, como o Japão, acabam de caracterizar o Brasil como “países e regiões de circulação de variantes do novo coronavírus”. Deste modo, todo viajante vindo do Brasil será submetido ao teste no aeroporto e depois permanecerá em alojamentos providenciados pelas autoridades sanitárias. E mesmo se o resultado for negativo, o viajante será liberado para passar o restante dos 14 dias de isolamento nas residências ou outros locais. Muito animador. Agora, me falem como esperar aumento de investimentos estrangeiros, de fluxo de capital, num cenário como esses?

E claro que agora até a Bolsa de Valores, que seguia firme e forte, começa a desequilibrar. Ora, muito da alta da bolsa deveu-se a um movimento de troca de ativos – a renda fixa com a baixa da taxa de juros começou a ficar sem graça, e o fluxo doméstico migrou para a renda variável. Mas diante do tamanho do mercado financeiro brasileiro somada à baixa educação financeira sobre o tema, imagino que esse movimento de troca seja limitado. No final da história, parece que nem o mercado financeiro está mais convencido que 2021 será um ano bom. Talvez melhor que 2020, afinal a vacina já está aí. Mas o ritmo de recuperação somado à conduta do governo pode deixar o Brasil de lado. Óbvio que essa avaliação deve ser diferente para os 30% que consideram que está tudo bem ou ótimo.

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