França adotará medidas “excepcionais” na luta contra o terrorismo
Marta Garde.
Paris, 13 jan (EFE).- Os atentados ocorridos na França levaram o governo do país a revisar a política nacional de segurança nesta terça-feira, com a previsão de implantação de novas medidas “excepcionais”, mas não “de exceção”, na luta contra o terrorismo.
As mudanças foram anunciadas pelo primeiro-ministro francês, Manuel Valls, em reunião realizada na Assembleia Nacional. No discurso, Valls garantiu que, apesar disso, o Estado de direito não será questionado.
“Uma situação excepcional deve ser seguida de medidas excepcionais, mas digo com a mesma força que não serão medidas de exceção, que transgridam o princípio do direito e dos valores”, afirmou.
O chefe do governo francês defendeu que uma resposta “implacável” deve ser dada à barbárie, com determinação e sangue frio, mas sem precipitação. Perguntado se a França está em guerra, respondeu que a questão tem “pouca importância”. Para ele, os recentes ataques jihadistas não oferecem outra saída ao país.
“A França está em guerra contra o terrorismo, os jihadistas e o radicalismo, mas não contra uma religião. Não está em guerra contra o islã, nem contra os muçulmanos. Protegerá, como sempre fez, todos seus cidadãos”, acrescentou.
Os ministros do Interior, de Justiça e Defesa terão oito dias para elaborar as primeiras propostas para melhorar o controle sobre os jihadistas e as organizações terroristas.
A “Marselhesa”, hino nacional francês, foi tocado pela primeira vez no local desde 11 de novembro de 1918, data da assinatura do armistício da I Guerra Mundial. A execução precedeu um discurso que demonstrou a determinação do país em aprender com os erros ocorridos durante os atentados e atuar para evitar novos ataques.
“Se tivermos que restringir a liberdade individual de alguns, seremos obrigados a fazê-lo”, apontou o presidente do grupo parlamentar da União por um Movimento Popular (UMP), Christian Jacob, principal partido da oposição.
Valls destacou que as futuras medidas de segurança darão uma ênfase especial na internet e nas redes sociais, “utilizadas mais do que nunca para o alistamento, o contato e a aquisição de técnicas que permitem chegar aos atentados”. Além disso, serão reforçados os serviços de informação e a jurisdição antiterrorista.
O primeiro-ministro indicou também a intenção de ampliar para todo o território francês um programa piloto que será implantado em duas prisões da região de Paris, onde os presos radicais serão agrupados e isolados dos demais detentos.
Outra iniciativa para prevenir a radicalização será criar um arquivo nacional de condenados por terrorismo ou membros de grupos de combate. Eles serão submetidos a controles regulares das autoridades e a obrigados a declarar domicílio.
Por outro lado, o controvertido registro de dados de passageiros de companhias aéreas, “PNR”, travado na burocracia do trâmite parlamentar europeu, estará em funcionamento na França a partir de setembro, indicou Valls, que fez um pedido para que a Eurocâmara também o aprove.
Em um evento no pátio central da Prefeitura de Polícia de Paris, carregado de emoção e simbolismo, o presidente da França, François Hollande, prestou homenagem aos três policiais assassinados na última semana. Hollande afirmou que eles morreram “com coragem e dignidade” no cumprimento de suas tarefas.
“Ahmed Merabet, Franck Brinsolaro e Clarissa Jean-Phillipe compartilhavam a vontade de proteger seus concidadãos e tinham um ideal, o de servir à República”.
Enquanto isso, familiares, autoridades e populares se despediam das quatro vítimas do ataque ao supermercado kosher de Paris no funeral oficial realizado em Jerusalém, um ato também marcado pelo apoio à comunidade judaica francesa.
Centenas de pessoas compareceram ao cemitério de Guivat Shaul para dar o último adeus a Yoram Cohen, Phillipe Barham, Yoav Hatab e François-Michel Saad. EFE
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