Francisco Ferdinando, um monarca descentralizador vítima do nacionalismo

  • Por Agencia EFE
  • 26/06/2014 19h29

Gustavo Monge.

Praga, 26 jun (EFE).- São ironias da história, mas justamente o futuro imperador austro-húngaro que planejava suavizar o centralismo e ceder poder aos eslavos foi assassinado por um nacionalista servo-bósnio, um crime que detonou a I Guerra Mundial.

“Sentia que era impossível manter a lealdade de seus súditos neste grandíssimo Estado, tão multinacional, se ia ser tramitado de forma centralista”, afirmou em entrevista Nikolaus Hohenberg, bisneto do arquiduque Francisco Ferdinando, assassinado em 28 de junho de 1914 em Sarajevo pelo jovem Gavrilo Princip.

Segundo Hohenberg, o herdeiro do trono dos Habsburgo defendia a cessão de mais poder às nações eslavas que formavam este grande império centro-europeu.

Francisco Ferdinando quis evitar que a monarquia “se quebrasse em pedaços”, e um dos pontos de sua agenda era “dar mais autonomia aos eslavos na parte sul, aos croatas, sérvios, bósnios”, contou à Agência Efe em Praga o neto de um dos três filhos do arquiduque.

Finalmente, o império acabou se afundando em uma guerra iniciada justamente pelo conflito com a Sérvia e os nacionalistas eslavos pelo controle da Bósnia-Herzegovina.

O herdeiro do imperador Francisco José era contrário à gestão centralista decretada em 1848 com a monarquia “bicéfala”, pela qual o chefe da monarquia era imperador da Áustria e rei da Hungria, explicou Hohenberg.

Se havia algo em que Francisco Ferdinando particularmente acreditava era “que deveria romper a excessiva centralização dos húngaros, que estavam administrando um Estado por sua conta”, afirmou este austríaco de 53 anos e assessor financeiro estabelecido em Londres.

O arquiduque nem sempre encontrou apoio em sua própria família reinante, onde o elemento nacionalista alemão e húngaro era muito forte, destacou seu bisneto.

As reformas que pretendia eram de magnitude considerável também para Francisco José, no trono desde 1848.

“O imperador era velho demais para mudar as coisas, e isso o deixava impaciente, e às vezes o fazia perder as rédeas”, lembrou Hohenberg.

Entre seus principais opositores dentro da família estavam os membros do poderoso ramo dos Habsburgo de Teschen, da qual procedia a rainha da Espanha e mãe de Alfonso XIII, Maria Cristina.

Nesse sentido, Hohenberg opina que Francisco Ferdinando nunca foi perdoado pelo casamento “morganático” – entre um nobre e alguém de uma posição inferior – com a condessa boêmia Sofia Chotek.

“Em sua família, sua escolha de esposa foi vista como algo impensável, porque as leis familiares eram muito estritas. Mas ele sentia que amava esta mulher e estava disposto a ceder tudo, inclusive os direitos ao trono”, detalhou Hohenberg.

Seu sobrenome se desprende do título nobiliário de “conde de Hohenberg”, concedido a seu avô Maximiliano, o segundo filho de Francisco Ferdinando e Sofia.

Em todo caso, o imperador Francisco José (1832-1916) se deu conta de que seu sobrinho era um homem de grande talento, motivo pelo qual decidiu não excluí-lo da sucessão.

Para isso, se chegou a um compromisso pelo qual os filhos desse casamento “morganático” não poderiam herdar a coroa.

No entanto, segundo Hohenberg, “estava claro que Francisco Ferdinando estava muito insatisfeito com sua família e isso também não foi fácil para ela (Sofia)”.

Os arquiduques se isolaram da corte vienense e centraram sua vida no castelo de Konopiste, perto de Praga, onde nasceram dois dos três filhos.

No imaginário popular local, Francisco Ferdinando aparece até hoje como um homem obstinado, irascível e fanático por caça.

Mas, na família, é lembrado como uma pessoa “afável e homem de família, um marido amoroso e um excelente pai”, concluiu Hohenberg. EFE

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