Hollande, um aliado circunstancial para ajudar Tsipras a salvar a Grécia
Enrique Rubio.
Paris, 11 jul (EFE).- Perante uma Europa receosa, a Grécia tem na França do socialista François Hollande um aliado de circunstâncias, que defendeu Atenas por convicção, mas também estimulado por uma opinião pública pouco entusiasmada com a austeridade.
Apesar de sua perda de relevância no eixo franco-alemão ser evidente, mais ainda quando se tratam de questões econômicas, Paris quis exercer desde o começo uma função moderadora e se reservou o papel de guardião das essências da Europa.
A França está na origem do euro e a possibilidade de ter de contribuir para sua desagregação, se a Grécia tiver que sair, lhe causa mais repulsa que a qualquer outro país.
Frente à dureza da Alemanha, Hollande se viu obrigado ao funambulismo político: mostrar uma frente europeia sem fissuras ao mesmo tempo em que garante que não se rompam todas as pontes com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.
Na guerra de nervos provocada pela convocação do referendo na Grécia, as fendas entre Paris e Berlim deixaram em evidência suas diferentes posturas diante do problema.
Mas o presidente francês convidou à chanceler alemã, Angela Merkel, ao Palácio do Eliseu logo após saber da vitória do “não” na consulta popular grega para fixar uma resposta comum e, sobretudo, para demonstrar que a opinião da França ainda deve ser escutada.
Convertido à força em baluarte da social-democracia europeia, Hollande e seu governo insistiram até não poder mais em que o “grexit” (saída da Grécia da zona do euro) nunca seria uma opção, como proclamou em um solene discurso nesta semana perante a Assembleia Nacional o primeiro-ministro, Manuel Valls.
As autoridades francesas repetiram como um mantra a expressão “solidariedade e responsabilidade” para apelar a Atenas para que salde suas dívidas, mas ao mesmo tempo estendendo a mão a um acordo.
Não em vão a foi de Hollande a voz mais animada na última sexta-feira após conhecer a proposta de Tsipras para um terceiro programa de resgate, que qualificou de “séria e crível”.
Não faltaram membros da oposição conservadora para criticar o governo francês por se transformar no salva-vidas do “irresponsável” Tsipras. Estas vozes lembram que a França destinou mais de 55 bilhões de euros aos programas de resgate da Grécia.
Apesar disso, a opinião pública apoiou – com força decrescente segundo avançava a crise – a continuidade da Grécia dentro do euro, temerosa perante um possível contágio a seu país em caso de descalabro.
Em uma pesquisa divulgada esta semana pelo jornal “Le Figaro”, 46% dos franceses afirmava que o impacto do abandono da moeda única por parte dos gregos seria grave para a França, enquanto apenas 26% dos alemães compartilhava essa opinião em relação com seu próprio país.
Apesar disso, os franceses confiam muito mais em Merkel (44%) que em Hollande (24%) para sair do atoleiro com a Grécia, uma nova evidência da atual fragilidade do inquilino do Eliseu.
Também pesou neste posicionamento francês o fantasma do partido ultraconservador Frente Nacional, de Marine le Pen, embarcada em uma cruzada contra o euro e para quem um fracasso da moeda única representaria um respaldo inestimável.
Frente a ela, e frente a todos aqueles que em um momento ou outro lhe pediram para abandonar a Grécia, Hollande aguentou firme, à espera de colher os frutos de sua aposta. EFE
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