Igreja, governo e oposição reagem à onda de linchamentos na Argentina

  • Por Agencia EFE
  • 03/04/2014 17h04

Buenos Aires, 3 abr (EFE).- A Igreja argentina uniu-se ao governo e a outras forças políticas e sociais na condenação dos linchamentos registrados nas últimas semanas em meio a uma tensa polêmica sobre o papel do Estado para cuidar da segurança.

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, Jorge Lozano, advertiu nesta quinta-feira que “se é pelas próprias mãos não é Justiça” e pediu ação das autoridades correspondentes quando ocorra um delito.

Em declarações a meios de comunicação locais, Lozano ressaltou que os linchamentos “não são uma reação lógica, mas emocional e com um sério componente de irracionalidade”.

O bispo assegurou que entre as causas que provocam estes episódios violentos está “o cansaço ou a saturação perante os reiterados roubos e assassinatos sem que se conte com resposta da Justiça e das forças de segurança”.

Por sua vez, o chefe de gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, considerou hoje que as agressões representam “expressões grandiloquentes ou de uma extrema direitização” e pediu o fim da estigmatização de pobres e excluídos.

Também alçou a voz o prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel, que alertou que “se gerou uma psicose coletiva de medo que encoraja setores que buscam fazer Justiça pelas próprias mãos, diante da ausência das forças de segurança”.

“Os cidadãos temos direito a nossa segurança, se alguém a viola o caminho é a Justiça, não a vingança”, escreveu Esquivel em seu site.

A oposição política argentina compartilhou os pedidos para frear as agressões, mas não poupou críticas ao governo da presidente Cristina Kirchner.

“Acontecem porque há um Estado ausente”, disse recentemente o deputado nacional e líder da Frente Renovadora, Sergio Massa, que ressaltou que “a sociedade não quer conviver com a impunidade”.

Massa, partidário de endurecer as penas aos criminosos, afirmou que os argentinos “necessitam do governo garantindo o Estado de Direito e um sistema de sanções que reprimam as condutas à margem da lei”.

O prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, jogou mais lenha na fogueira ao confessar que é “uma tranquilidade” e “um alívio” que uma de suas filhas tenha ido viver fora do país devido à “situação de insegurança” que se vive na Argentina.

Ao ser consultado pelos linchamentos pela rádio “Vorterix”, Macri salientou que se trata de um “fenômeno novo” que se dá “pelo desespero do povo de sentir-se indefeso e abandonado, e ver como a delinquência se movimenta com tanta naturalidade”.

O último a somar-se foi o ministro da Defesa argentino, Agustín Rossi, que advertiu que “as reflexões justificadoras de Macri e Massa não ajudam em nada” a resolver o problema, mas acrescentou que “a direita tem este estilo”.

O incidente que suscitou esse debate político e midiático aconteceu na semana passada na cidade de Rosário, quando um grupo de moradores espancou um jovem de 18 anos, que morreu após agonizar durante quatro dias.

Desde então, se registraram pelo menos uma dezena de linchamentos em diferentes pontos do país, entre eles, nas cidades de Rosário, Córdoba, Santa Fé, La Rioja e Buenos Aires.

O último caso de justiça por conta própria foi conhecido hoje, depois um agente aposentado da prefeitura matou com um tiro um jovem que roubou sua caminhonete em Mar del Plata, cerca de 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires. EFE

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