Irã e potências correm contra o tempo para conseguir um acordo nuclear

  • Por Agencia EFE
  • 24/11/2014 11h10

Antonio Sánchez Solís.

Viena, 23 nov (EFE).- A busca de um acordo que acabe com os temores sobre um Irã com armas atômicas se transformou neste domingo em uma trama de suspense com múltiplas reuniões, seis ministros das Relações Exteriores envolvidos e menos de 24 horas para se chegar a um acordo.

As seis grandes potências mundiais e o Irã estiveram trabalhando o dia todo para ter pronto amanhã algum tipo de documento, mesmo que sem muito detalhes e sujeito a mais negociações.

Assim o Grupo 5+1 – formado por China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, mais a Alemanha – e o Irã querem evitar o fracasso de uma negociação que já dura 12 meses e que, apesar das diferenças que ainda existem, criou uma possibilidade real de acordo.

“Devemos continuar com o trabalho. Estamos trabalhando ao máximo para encontrar um acordo, um que seja positivo e permita trabalhar pela paz. Mas ainda há diferenças”, declarou à imprensa Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores da França, ao reincorporar-se hoje às reuniões que começaram na terça-feira em Viena.

A persistência desses dois elementos, que há diferenças e de que é preciso seguir trabalhando, é a visão que compartilham ambas partes.

Fontes da delegação iraniana afirmaram à agência “Irna” que os contatos realizados hoje com os Estados Unidos foram bons, mas que “resta muito trabalho a fazer”.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Yavad Zarif, e o secretário de estado americano, John Kerry, se encontraram hoje duas vezes, somando assim seis encontros em quatro dias entre dois países que não têm relações diplomáticas há 35 anos.

Apesar da maratona de reuniões e da presença em Viena de todos os ministros dos países envolvidos, menos o da China, que deve chegar amanhã, as possibilidades de assinar amanhã um acordo definitivo são limitadas.

“A questão é: podemos conseguir um acordo permanente? As diferenças são ainda significativas”, declarou hoje o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em uma entrevista à emissora “ABC”.

O presidente americano confia ainda que, se for alcançado um acordo “que seja verificável e garanta que o Irã não tenha capacidade para desenvolver armas nucleares”, ele será capaz de ganhar o apoio do Congresso para dar o sinal verde a esse documento.

A crescente possibilidade de que se estabeleça outra extensão das negociações ou, inclusive, que se assine um simples acordo marco que demore meses para ser aplicado, poderia ser um triunfo para os setores mais duros, tanto em Washington como em Teerã, que criticaram desde o início o diálogo com um país “inimigo”.

De Israel, cético sobre a boa vontade do Irã, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também criticou hoje um possível acordo mal formulado que não anule totalmente o programa nuclear iraniano.

“E se, por qualquer razão, os EUA e as outras potências se comprometem a deixar o Irã com essa capacidade (de criar uma bomba atômica), acho que seria um erro histórico, não só porque põe em perigo a meu país, Israel, ao qual o líder do Irã, o aiatolá Khamenei, promete aniquilar, mas também porque poria em perigo a todo Oriente Médio e ao mundo”, declarou.

No entanto, o que tenta o G5+1 é equilibrar que o Irã tenha um programa nuclear com fins científicos e energéticos com a garantia que não tenha a capacidade de fabricar a bomba em um prazo mínimo de um ano.

Para controlar esse ponto de “ruptura” – o tempo que necessita o Irã para criar um arsenal nuclear -, as grandes potências querem limitar a quantidade e a pureza do urânio enriquecido fabricado por Teerã.

O debate sobre o combustível nuclear, de uso tanto militar como civil, é talvez o mais difícil de ser resolvido.

Mas há mais os pontos conflituosos, como a possível produção de plutônio – outro material com possível uso militar – na usina de água pesada em Arak.

Além disso, persiste o desacordo sobre o período que as atividades nucleares do Irã deveriam ser submetidas a controles exaustivos, com os EUA falando de décadas e o Irã de anos.

Finalmente, Teerã quer que o acordo inclua o fim imediato das sanções internacionais que afogam sua economia, enquanto a outra parte, principalmente europeus e americanos, querem que essa suspensão seja progressiva e em função de que o Irã cumpra o estipulado.

O Ocidente teme que a República Islâmica, sob o guarda-chuva de um suposto programa nuclear civil, queira obter os conhecimentos e materiais para construir uma bomba atômica.

Teerã, por sua parte, rejeita estas alegações, assegurando que tem apenas intenções pacíficas como a geração de energia elétrica e as pesquisas medicas. EFE

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