Jardim Botânico do Rio lança livro de plantas medicinais em tribo no Acre

  • Por Agencia EFE
  • 17/05/2014 06h34
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Janaína Quinet.

Rio de Janeiro, 17 mai (EFE).- O Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IJBRJ) e a Editora Dantes lançaram nesta semana o livro “Una Isi Kayawa, Livro da Cura”, que documenta o conhecimento medicinal do povo Huni Kuin do Rio Jordão, no Acre.

O trabalho que durou cerca de dois anos e meio foi realizado através de pesquisas e oficinas com os pajés das 33 aldeias das três terras indígenas Kaxinawá, que, que se estendem pelo Rio Jordão.

Comandado pelo pesquisador do JBRJ, Alexandre Quinet, e com o apoio do Coordenador do Centro Nacional da Conservação da Flora Brasileira do Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico, Gustavo Martinelli, o livro conta com 109 espécies de plantas com a descrição de seus usos medicinais em português e em “hatxa kuin”, língua falada na tribo.

A identificação do material botânico foi feita com a colaboração de 21 taxonomistas de instituições brasileiras e internacionais. A obra apresenta, além do conhecimento científico das plantas, a cultura do povo Huni Kuin por meio de relatos e desenhos, desde seus hábitos alimentares e artesanato como também as suas concepções espirituais.

Por conta do lançamento, foi organizada na Aldeia São Joaquim uma grande festa, reunindo a maior parte dos pajés das 33 aldeias, que realizaram seus rituais com a “nixi pae” (ayhausca) e rapé de tabaco. Todos vestiram suas roupas tradicionais, enfeitaram-se com seus cocares e, com urucum e jenipapo, desenharam em seus corpos os “kenes”, representações gráficas de conceitos sagrados.

Durante a entrega dos livros aos pajés de cada aldeia, Quinet declarou que o livro “é um registro fiel do que foi dito pelos pajés.

“Esse foi um processo todo participativo. Nós fomos apenas os costureiros. Essas palavras são de vocês, vocês são os autores e protagonistas deste livro feito por vocês e para vocês”, disse.

Já Martinelli afirmou que o acolhimento que o povo lhe proporcionou foi o melhor que ele recebeu em todas as suas viagens.

“Desde a primeira vez que eu vim aqui, nunca tinha me sentido tão bem acolhido. As pessoas estavam aqui me saudando, e nunca vou esquecer esse momento. Por isso eu quis retribuir, colaborando ao máximo para concretização desse projeto”, explicou.

Anna Dantes, que editou o livro acompanhando sua realização desde as oficinas, coordenando a tradução dos textos em “hatxa kuin” e selecionando com eles os desenhos, exaltou a iniciativa.

“Trabalho com a edição de livros há mais de 20 anos, para mim isso é pegar um sonho e fazer com que ele alcance outras pessoas. O livro vai durar mais tempo que a gente, o livro fica na história”, argumentou.

Ela ainda explicou que, para apresentar um conteúdo tão rico, foi criada uma fonte tipográfica a partir das letras manuscritas em cadernos, placas dos parques e quadros negros.

A fonte foi usada para a escrita do “hatxa kuin” e para todas as informações de autoria Huni Kuin no livro. Além disso, o papel utilizado na impressão é resistente e pode ser molhado, já que é feito de garrafas de plástico recicladas. O objetivo é que ele possa resistir às condições úmidas e permeáveis da floresta.

A realização deste livro é a concretização do sonho do pajé Agostinho Manduca Mateus Inka Muru.

Durante 20 anos, ele realizou a missão de reunir seu povo que estava disperso, de resgatar sua cultura, com seus cânticos, rituais, pinturas, tecelagem, desenhos, alimentos, histórias e lendas. Ele desejava perpetuar todo esse conhecimento em um livro, “como os brancos”, dizia ele, para que os mais jovens não esquecessem e pudessem passar adiante as tradições e a cultura Huni Kuin.

Dias após a realização da última oficina, tendo encaminhado sua missão de transmissão de conhecimento, enquanto terminava suas recomendações para o livro, o Pajé Ika Muru morreu nos braços de seus filhos. EFE

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