Joseval Peixoto: Citar apenas investigação fraudulenta contra Capez é indignidade
A internet publicou o seguinte: “Doria nomeia Fernando Capez, investigado na máfia da merenda, para o Procon”.
O governador de SP confirmou nesta terça-feira que o deputado estadual Fernando Capez será o diretor da fundação Procon.
Ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Capez foi um dos investigados da chamada máfia da merenda e denunciado pelo Ministério Público por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Essa notícia carece de exatidão. Não sei se o redator pretendeu macular a honra do ex-procurador Capez ou o próprio governador Doria por escolher mal seus assessores. Na verdade, o processo foi arquivado no Supremo Tribunal Federal, sob o fundamento de que essa investigação foi uma das maiores injustiças que já se cometeram contra um cidadão.
No acórdão que sepultou o caso, destacaram os ministros que testemunhas foram coagidas, pelo delegado e pelo promotor que atuaram na causa, numa demonstração clara de um interesse político em condenar o deputado que era, à época, presidente da Alesp. A coação foi gravada e juntada nos autos.
Antes do Supremo, a manifestação dos desembargadores que julgaram o caso no Tribunal de Justiça paulista são de arrepiar. Um deles, o relator do processo, desembargador Sérgio Rui afirmou: “a possível autoria não passou de uma falaciosa tentativa de se protrair no tempo a ruína política de uma liderança”.
O desembargador Xavier de Aquino foi incisivo: “no caso em apreço, salta aos olhos que a prova é nenhuma e, além do mais, emergem dos autos que o delator e as testemunhas foram vítimas de coação, seja na polícia, seja no gabinete do promotor, o que inegavelmente chancela o fato com o dístico de prova fraudulenta, no sentido, não se sabe porque, para comprometer o deputado Capez”.
No mesmo sentido votaram os desembargadores Artur Marques, Bereta da Silveira e Antonio Carlos Malheiros – todos eles homens de alta respeitabilidade no foro de São Paulo.
Vivemos no Brasil dias perigosos. A corrupção foi tão grande, o assalto aos cofres do país foram tão monstruosos, que passamos a aplaudir as delações premiadas como se fossem verdades absolutas. E estas delações, muitas delas, não passam de um negócio dos corruptos com o Ministério Público.
Não se dá a mínima chance ao acusado de se defender.
A prisão preventiva, a prisão provisoria e as conduções coercitivas são usadas como sola de sapato, sob os aplausos de uma sociedade, que está cansada de tanta corrupção. Mas o processo-crime não é isso. É o que há de mais sério no mundo, porque capaz de destruir num segundo, a honra e a dignidade de uma família.
A notícia, como está posta na internet, é uma grande indignidade, pois só cita a investigação fraudulenta de que foi vítima o deputado Fernando Capez e não se faz referência a esses oito votos de desembargadores que deixaram claro essa monstruosa iniquidade.
Divulga-se apenas uma parte do fato. Isso faz lembrar famosa sentença de Santo Agostinho, nos seguintes termos: me dê uma palavra isolada e eu condeno um homem.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.