Joseval Peixoto: Não é a ausência de pai e avô que leva a criança ao narcotráfico, mas a miséria
Candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão fez mais uma declaração que espantou a sociedade brasileira. O general disse, com todas as letras: “nas famílias pobres, onde não há pai nem avô, mas somente mãe e avó, há uma fábrica de desajustados, que fornecem mão de obra ao narcotráfico”.
De forma oblíqua, talvez o general tenha, certamente, se referido à decomposição das famílias pela união de pessoas do mesmo sexo, porém é preciso uma reflexão mais serena sobre essa dura afirmação do candidato a vice, de Bolsonaro.
Na longa periferia brasileira, nos fundões do país, a família realmente praticamente se desfez. Não existe mais. Meninas de 14, 15 anos são mães de dois ou três filhos e de dois ou três pais diferentes, sendo que nenhum deles estará a seu lado, na educação e formação dessas crianças.
Elas moram com a mãe e são mesmo as avós que cuidam de nossas jovenzinhas mães solteiras e seus filhos. E isto é tido como absolutamente normal, na periferia.
O general falou uma verdade, mas errou no conceito. Não é a ausência do avô que leva essas crianças para o tráfico. É a miséria. Não há trabalho. É a falta de um projeto de vida para os pequeninos de nossa periferia. Esse é o grande débito da sociedade moderna e o mais claro fracasso do capitalismo, no chamado estado democrático de direito.
O saudoso Bezerra da Silva sintetizou esse drama, num samba maravilhoso, que diz: “Eu posso falar de cadeira. Minha gente é trabalhadeira e nunca teve assistência social. Só vive lá porque para o pobre não tem outro jeito. Apenas só tem o direito a um salário de fome e uma vida anormal”.
E conclui:
A favela nunca foi reduto de marginal.
Lá só tem gente humilde e marginalizada e essa verdade não sai no jornal.
E o refrão é quase uma súplica
A favela é um problema social.
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