Joseval Peixoto: Quem sabe daqui a alguns milênios o homem poderá caminhar livremente pelo mundo
Cada dia vai ficando mais perigosa a situação dos migrantes da América Central que, cruzando o solo mexicano, se aproximam da fronteira dos Estados Unidos.
Donald Trump tem tratado a questão de forma incendiária. “America first”. O resto não existe.
Mas o resto – e tragicamente aquilo é mesmo um resto de humanidade, que busca uma chance de sobreviver, dentro do desespero em que se encontram na própria vida.
Aliás, a tragédia é muito maior. Não atinge apenas os centro-americanos, mas também grande parte da África, Arábia e o centro da Europa.
São milhares de famílias que tentam cruzar o Mediterrâneo e naufragam no meio do caminho.
A estatística é dramática. Quase 20% da humanidade passa fome. Mais de um bilhão de seres humanos, perambulam pelo mundo, porque vivem abaixo do nível da miséria, como proclamam as macabras estatísticas da migração.
Jean Paul Sartre, prefaciando o livro “O Estrangeiro”, de Albert Camus, profetizou que todos nós somos estrangeiros nesse mundo. Estamos de passagem, e que só as árvores têm raízes no planeta. E só as pedras são eternas.
Talvez seja essa, diz Sartre, a fonte de toda a angústia do homem: somos simples passageiros neste mundo.
No poema “Esta Vida”, clama Guilherme de Almeida: “oh mocidade. És relâmpago ao pé da eternidade”.
E aqui existimos, presos ao solo onde nascemos, porque as fronteiras do mundo estão fechadas. Exercer o direito de ir e vir, sem ser barrado nas divisas do universo, ainda é uma fantasia.
Quem sabe daqui a alguns milênios o homem poderá caminhar livremente pelo mundo. E, se por acaso, algum estúpido funcionário de alfândega quiser nos obstar a caminhada, responderemos sorrindo:
“Que que é isso, irmão.
Vou entrar nesse país.
Esse planeta é meu”.
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