O mundo do futuro é um mundo aberto

Os povos mais prósperos foram (e serão) os mais abertos a ideias e novidades vindas de fora

  • Por Leandro Narloch
  • 29/12/2020 15h24 - Atualizado em 29/12/2020 15h53
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Owen Humphreys/EFE - 12/12/2020 Vacina contra a Covid-19 é fruto da colaboração de milhares de pesquisadores de todos os cantos do mundo

Em 1202, Leonardo de Pisa apresentou aos italianos uma novidade revolucionária: “a arte das nove figuras indianas”. Filho de um funcionário de alfândega de um porto na Argélia, ele descobriu que mercadores do norte da África, da Grécia e da Síria escreviam números de forma mais inteligente. Em vez, por exemplo, de MMCXXXIV, combinavam nove símbolos indianos e o “0” criado pelos árabes, chegando à inscrição “2134”. Os algarismos indo-arábicos que Leonardo (hoje conhecido por Fibonacci) apresentou estão no teclado à minha frente. Essa inovação já rende livros e documentários de diversos episódios, mas é só uma entre milhares ao meu redor. Além dela, quantas outras me tornaram capaz de escrever no computador este artigo de fim de ano? Quantas outras ideias, de quantos povos e épocas? Impossível contar. O dispositivo eletrônico à minha frente é resultado de um acúmulo gigantesco e precioso de ideias, interações e descobertas humanas.  

Caso alguma criança se desidratar nas férias na praia, seus pais darão a ela soro fisiológico – uma fórmula criada em Bangladesh nos anos 1970, que desde então salvou pelo menos 70 milhões de pessoas. Por sorte, já corremos pouco risco de morrer de malária, pois em 1630 os jesuítas espanhóis descobriram que os índios dos Andes usavam o pó de uma casca de árvore (o quinino) para se tratar da doença. Em poucas semanas teremos a tão esperada vacina, fruto da cooperação de milhares de pesquisadores de todos os cantos do planeta – e de séculos de estudos e pesquisas. 

Em toda a história do mundo, os povos mais prósperos foram os mais abertos a ideias e novidades vindas de fora. Aqueles que puderam trocar invenções entre si, que pelas redes de comércio conheceram, imitaram e aperfeiçoaram formas novas de se comunicar, de produzir, de descobrir como curar doenças. Já os mais pobres foram os mais isolados, os autossuficientes. “A abertura criou o mundo moderno e o impulsiona adiante”, diz o historiador Jonah Norberg, autor do recém-lançado “Open: the Story of Human Progress” (Aberta: a História do Progresso Humano, em tradução livre). “Quanto mais abertos estamos a ideias e inovações de onde menos esperamos, mais progressos fazemos.”

Imagine a quantidade de gente que está, neste momento, em qualquer parte do planeta, tentando ganhar dinheiro satisfazendo desejos ou resolvendo problemas dos outros. Um aplicativo disruptivo como o Uber, a cura para a Aids, uma fonte de energia abundante e limpa. Isso pode surgir em lugares tão imprevisíveis quanto Kuala Lumpur, Joinville ou Austin. E o melhor de tudo é que hoje as ideias demoram menos para circular, pois o nosso mundo conectado transmite com rapidez não só vírus, também ideias. Diferente da Europa de Fibonacci, que demorou mais de cinco séculos para adotar os algarismos usados pelos árabes, temos a chance de desfrutar inovações meses depois de terem sido criadas. Desde que estejamos abertos a elas. Feliz 2021.

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