Partido Democrata encolhe entre latinos e negros americanos

A polarização racial diminuiu: está cada vez mais difícil saber, baseado apenas na etnia de um indivíduo, em quem ele vai votar

  • Por Leandro Narloch
  • 09/11/2020 08h19
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Reprodução/Twitter/JoeBiden Joe Biden, do partido democrata, foi eleito o 46º presidente dos Estados Unidos

Em 2002, os cientistas políticos John Judis e Ruy Teixeira escreveram o livro “The Emerging Democratic Majority”. Previram ali que a imigração romperia o equilíbrio da balança eleitoral americana. A maior presença de eleitores latinos, que costumam preferir o Partido Democrata, faria estados historicamente republicanos mudarem de lado. O livro já tem 18 anos e sua profecia não se realizou. O Texas, que tem 38% de hispânicos na população, seguiu fiel a Trump este ano, assim como a Flórida, que votou nos republicanos em sete das últimas dez eleições presidenciais. 

Pelo contrário, a tendência de 2020 foi na direção contrária: as minorias votaram um pouco mais na direita; os brancos, mais na esquerda. O New York Times chamou de “a grande reviravolta desta eleição” o fato de a diferença racial entre eleitores democratas e republicanos ter diminuído. E uma reportagem do Financial Times deste sábado traçou as diferenças dos votos de 2016 e 2020 de acordo com o gênero e a etnia. Baseado nas pesquisas de opinião e resultados das urnas, o jornal concluiu que houve duas principais mudanças: 

  1. Mais homens brancos votaram no Partido Democrata. Em 2016, 42% deles votaram em Hillary Clinton; este ano, 47% escolheram Biden
  2. Mais negros e latinos votaram na direita. Em 2016, 8% dos negros, 32% dos homens latinos e 25% das mulheres latinas preferiram Trump. Em 2020, os números subiram para 12%, 36% e 28%, respectivamente. 

O “voto latino” é uma generalização um tanto grosseira: reúne indivíduos diferentes como um imigrante rico do Brasil, um cubano fugido do comunismo ou uma neta de imigrantes que estuda Sociologia em Berkeley. Por isso, é interessante esmiuçar esse conjunto. Entre os latinos com diploma universitário, não houve mudanças de preferência: a maioria continuou votando na esquerda. Já entre os que não se formaram, Trump subiu de 20% para 25%. 

Esses números mostram que os eleitores dos Estados Unidos estão se dividindo menos por etnia e mais pelo grau de educação e pela geografia (urbano ou do interior). A polarização racial diminui: está cada vez mais difícil saber, baseado apenas na etnia de um indivíduo, em quem ele vai votar. Os números também corroem o estereótipo do eleitor de Trump como um branco heterossexual racista, como se repetiu nos últimos quatro anos. Justamente num ano marcado pelos enormes protestos do Black Lives Matter, Trump aumentou sua base entre os eleitores não-brancos. Há ainda uma terceira constatação, bastante relevante para a política brasileira. A preferência dos eleitores não é monolítica. Brancos, negros, latinos ou sulistas mudam de escolhas com o tempo. Ninguém garante que latinos sempre votarão nos democratas – ou que, no Brasil, os nordestinos sempre seguirão a recomendação de Luiz Inácio Lula da Silva.

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