Leonard Nimoy: um tal Sr. Spock
Fernando Mexía.
Los Angeles (EUA), 27 fev (EFE).- Leonard Nimoy foi artista apaixonado, poeta e dramaturgo, fotógrafo com alma de diretor de cinema e que se consagrou como Sr. Spock, inteligente, de orelhas pontiagudas e trato frio, que fez uma geração sonhar com a exploração espacial.
Nimoy morreu nesta sexta-feira em Los Angeles, aos 83 anos, por conta de doença crônica pulmonar atribuída aos seus longos anos como fumante, a mesma que o deixou muito magro na reta final de sua vida “longa e próspera”, célebre frase de Spock, seu personagem da série “Jornada nas Estrelas”.
Em poucas horas, seu adeus se transformou em um dos temas mais comentados do dia nas redes sociais, justamente as que ele utilizou para, aos poucos, ir se despedindo de seus fãs.
“A vida é como um jardim. Momentos perfeitos podem ter acontecido, mas não preservados, exceto na memória”, escreveu Nimoy no último dia 23, o último tweet antes de sua família anunciar sua morte com um descritivo “Leonard Nimoy 1931-2015”.
Um dia antes, 22 de fevereiro, Nimoy tuitava uma poesia de seu livro “These Words Are for You” (1981), título que faz parte dos quase dez poemas que publicou ao longo de sua carreira, sempre eclipsada pela figura do Sr.Spock.
Nimoy nasceu em 26 de março de 1931 em Boston e era filho de imigrantes ucranianos judeus ortodoxos. Seu pai, Max Nimoy, era cabeleireiro e sua mãe, Dora, era dona de casa. A vocação artística surgiu ainda quando criança e aos oito anos estreou no teatro com a peça infantil “João e Maria”. Seguiu atuando como amador, até que aos 18 fez as malas e rumou para Hollywood decidido a ser profissional.
Em 1951, conseguiu fazer participações pequenas em “Queen for a Day” e “Um Gato em Minha Vida”. Em 1952, estreava em “Kid Monk Baroni”, onde já tinha um papel mais relevante, assim como em “Zombies of the Stratosphere”, sua primeira incursão na ficção científica.
Naquela época, emendou vários filmes, mas era do trabalho como taxista e em redes de fast-food que tirava o dinheiro para sobreviver.
Em 1954, se casou com Sandy Zober, com quem teve dois filhos, Julie e Adam. O casal se divorciaria em 1987 e Nimoy voltou a se casar em 1989. Dessa vez a escolhida foi Susan Bay, sua segunda e última mulher.
A carreira de Nimoy deu uma guinada em 1964, quando ele conheceu o roteirista Gene Roddenberry, após gravar o primeiro capítulo de “O Tenente”. Roddenberry, o criador desse programa, estava preparando a série de viagens espaciais, “Jornada nas Estrelas”, e viu em Nimoy o candidato perfeito para encarnar o oficial de ciências da nave estelar USS Enterprise,
Sr. Spock era metade humano, filho de um extraterrestre do planeta Vulcano, brilhante em questões de lógica, distante no tratamento, mas “leal, dedicado e comprometido”, conforme descreveu o próprio Nimoy em entrevista para os arquivos da Academia da Televisão dos Estados Unidos.
O ator embarcou naquele projeto que durou três anos e no qual compartilhou o peso da atuação com William Shatner, o capitão James Kirk.
“Foi muita mudança para mim. Na minha formação como ator usava minhas emoções. (Spock) não era eu em nada, mas se transformou em mim. Se contarmos a quantidade de horas (durante os anos de filmagem) eu era mais tempo Spock do que Nimoy”, comentou ele na mesma entrevista
Spock rendeu a Nimoy três indicações ao Emmy, uma por cada temporada de exibição de “Jornada nas Estrelas”, algo que fez chorar o ator que em cena se mostrava inabalável.
O reconhecimento, contudo, ficaria pequeno frente à fama que a série alcançaria. A exibição de “Jornada nas Estrelas” nos Estado Unidos e sua venda internacional transformaram o programa em um fenômeno mundial e Spock, em um ícone pop.
Com a popularidade chegariam os filmes, os seis primeiros entre 1979 e 1991, sendo dois dirigidos por Nimoy (partes III e IV), que retomaria o personagem com frequência até 2013, em “Além da Escuridão – Star Trek”, e que em 1987 confirmava seu talento de direção com “Três Solteirões e um Bebê”, sucesso de bilheteria naquele ano.
A dicotomia Nimoy-Spock foi abordada pelo ator com uma autobiografia de dois volumes, “Eu não sou Spock” (1975) e “Eu sou Spock” (1995), que constataram sua luta interna para conviver com um personagem que cresceu demais.
Sua morte foi sentida por fãs e colegas de profissão, mas também pelo presidente americano Barack Obama, e pela Nasa, instituição que ressaltou a influência do ator. Não à toa, as mensagens de pêsames vieram até mesmo de fora do planeta.
“Longa vida e prosperidade, ao Sr. Spock”, escreveu no Twitter a astronauta Samantha Cristoforetti a partir da Estação Espacial Internacional. EFE
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