Voto obrigatório livra os candidatos de apresentarem planos de governo sólidos
Uma possível liberdade de expressão somada ao voto facultativo elevaria o nível da discussão política no Brasil
Por conta da pandemia, tinha-se uma expectativa de que o índice de abstenção no primeiro turno das eleições municipais seria alto, e confirmando essa sensação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou na noite do último domingo, 15, que os ausentes chegaram a 23,14%, percentual mais elevado do que os observados nos primeiros turnos das eleições de 2018 (20,33%), 2016 (17,58%), e 2012 (16,41%). Curiosamente, na mesma época, também durante a pandemia, na eleição presidencial americana o número de eleitores que compareceram às urnas foi o maior nos últimos 120 anos, contando com 67% dos americanos aptos a votar, segundo a US Election Project, sendo que nos Estados Unidos o voto não é obrigatório como aqui no Brasil.
Mesmo que consideremos o número de votos pelo correio em solo estadunidense, a simplicidade dessa possibilidade também é motivo de reflexão, posto que desnecessário um investimento maciço como no formato eletrônico. De se reconhecer que nem tudo é motivo de celebração na eleição ianque, haja vista que por lá demorou-se dias para conclamar o vencedor, ao passo que por aqui aferimos os eleitos horas após o fechamento das urnas. Todavia, uma possível explicação para o crescimento de eleitores americanos pode ser alocada na comoção populacional em afastar Donald Trump da presidência, sendo que os cidadãos optaram por enfrentar o vírus a deixar que a situação com a qual não concordavam se perpetuasse.
Noutro giro, no Brasil, forçar eleitores a votar impondo multas e restrições, como emissão de passaportes, transforma o direito ao voto num dever, sendo que a obrigatoriedade do sufrágio afasta, ainda, a preocupação dos candidatos em justificarem seus planos de governo, bem como de convencerem os eleitores a saírem de casa para exercerem seus direitos como cidadãos. Os exemplos recentes parecem indicar que a liberdade de expressão consubstanciada na faculdade do voto tende a elevar a discussão política, refletindo de forma mais densa o âmago democrático.
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