Moradores de Gaza sentem a falta do homem que uniu os palestinos

  • Por Agencia EFE
  • 11/11/2014 06h20
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Saud Abu Ramadan.

Gaza, 11 nov (EFE).- Dez anos depois da morte de Yasser Arafat, muitos moradores de Gaza sentem falta da atitude e do carisma do antigo líder, que formou uma unidade palestina que seu sucessor, Mahmoud Abbas, não conseguiu conservar.

“A causa palestina recebeu uma influência negativa após a morte de Arafat, e Israel acha que pode expandir os assentamentos livremente e adiar a assinatura de um acordo de paz permanente que ponha fim à ocupação”, afirmou Hilal Jaradat, um ex-presidiário de 35 anos residente em Gaza após ser expulso de Yenin, sua cidade natal.

“Com a morte de Arafat, os palestinos perderam a unidade real. A pior consequência de sua morte é a atual divisão interna e a ruptura entre Fatah e Hamas”, opinou.

Quase três anos após sua controversa morte – sua família denunciou um suposto envenenamento que nunca foi confirmado -, o partido nacionalista e o movimento islamita se envolveram em uma disputa eleitoral e uma guerra que acabou com a expulsão do Fatah de Gaza em 2007.

Desde então, a Faixa está sob o controle do Hamas e submetida a um bloqueio econômico e um severo assédio militar israelense, o que empobreceu as condições de vida de seus quase dois milhões de habitantes.

Ambos os grupos chegaram a um acordo de reconciliação em 26 de abril, o que permitiu, quase dois meses depois, a formação de um governo de união nacional transitório cuja missão é elaborar um novo processo eleitoral. Uma missão sem sucesso até então devido à desconfiança mútua e à recusa de Israel, que condenou a união entre os dois grupos.

Mohammed Kamal, proprietário de uma fábrica de produtos têxteis no enclave, afirma que “existe uma grande diferença entre Arafat e Mahmoud Abbas. Arafat foi um homem valente que fez a guerra com Israel, enquanto Abbas é apenas um negociador que procura métodos pacíficos para alcançar seus objetivos”, comentou.

“Acho que as tragédias que estamos sofrendo agora são o resultado da perda de um homem como Arafat. Se ele estivesse vivo, nossa situação seria certamente diferente. Ele tinha muita experiência para lidar com os israelenses, os americanos e os árabes”, disse o homem de 42 anos que viveu os tempos do líder.

A tão esperada homenagem a Arafat foi suspensa depois que diversas bombas destruíram casas e veículos de 13 membros do Fatah em Gaza na quinta-feira.

Segundo o Ministério do Interior de Gaza, órgão ainda comandado pelo Hamas apesar do acordo de reconciliação, as atuais condições de segurança tornam qualquer concentração em massa nas ruas perigosa.

Entre as hipóteses, a mais considerada é que grupos radicais islâmicos tenham sido os responsáveis por uma sequência de atentados que aumentou a desconfiança na região.

Assim, ao invés de comemorarem juntos, Fatah e Hamas se viram envolvidos em uma nova troca de acusações sobre quem é o responsável pelos ataques contra os líderes do partido nacionalista.

Esse ataque afeta novamente o processo de reconciliação nacional entre os grupos, que tentam estabelecer desde junho um Executivo de unidade que não consegue se materializar.

Muitos dizem que este é um vazio que ninguém soube preencher após a morte de Arafat e lembram a habilidade do líder para priorizar a causa de seu povo em relação à política.

“Arafat foi nosso símbolo e pai espiritual. Teve a magia para criar a unidade entre os palestinos. Sempre foi um amigo, inclusive dos seus rivais, e soube como negociar com eles”, declarou o ex-policial Jader Shaath, trazendo à tona lembranças que muitos em Gaza sentem saudades. EFE

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