Morte de Marighella foi grande vitória da ditadura, diz biógrafo

  • Por Agencia EFE
  • 27/03/2014 07h44

Macarena Soto.

São Paulo, 27 mar (EFE).- O assassinato do então inimigo número um da ditadura, Carlos Marighella, foi “uma das grandes vitórias” do regime militar, afirmou nesta quinta-feira Mario Magalhães, autor da biografia que recupera a história do guerrilheiro e político, quando se completam 50 anos do golpe de 1964.

Marighella nasceu em Salvador em 1911, filho de uma escrava baiana e um imigrante italiano, começou sua atividade política ainda jovem e sua primeira passagem pela prisão aconteceu quando tinha 20 anos, após escrever um poema contra os poderes públicos do estado da Bahia e do presidente da República.

Depois de 33 anos como militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual foi deputado, e dois e meio na clandestinidade já fora da organização política, foi assassinado pelas forças de segurança da ditadura no dia 4 de novembro de 1969, em uma emboscada que o pegou desarmado.

Em entrevista à Agência Efe, o jornalista Mario Magalhães, autor da biografia não autorizada “Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo”, afirmou que a morte do líder revolucionário também foi um “grande golpe para a luta armada” que combatia o sistema político antidemocrático instaurado em 1º de abril de 1964 após a deposição do presidente eleito João Goulart.

“Hoje, quase 45 anos após sua morte (em 1969), parece despertar mais amor e ódio que quando estava vivo. Agora está mais vivo que nunca”, opinou Magalhães, acrescentando que dita bipolaridade ao redor de Marighella se deve à “atitude de suas ações, da forma de combater que tinha”.

Segundo explica o jornalista, autor do livro de 700 páginas sobre Marighella que já teve 33 mil exemplares editados desde sua publicação um ano atrás, o combatente e também poeta ficou famoso na Bahia com apenas 17 anos, quando respondeu um exame de Física com versos rimados.

“A agitação de sua vida foi atávica”, lembrou Magalhães ao ressaltar que suas ideias não foram herdadas de sua família, mas do próprio estado da Bahia, marcado historicamente desde a independência do Brasil e que protagonizou as maiores revoltas contra a escravidão de toda América, segundo o jornalista.

Fundador do movimento armado Ação Libertadora Nacional (ALN) após sair do PCB em 1966 por considerar que o partido não queria combater com a violência, o guerrilheiro foi considerado então um sucessor do líder da revolução cubana Che Guevara após a morte deste na Bolívia em 1967.

“Excluindo artistas e atletas, foi um dos dez brasileiros de maior exposição internacional do século XX, inspirou movimentos contestatórios no mundo todo, passou a ser estudado até hoje”, garante o autor da biografia não autorizada.

Além disso, e reflexo do poder e a inquietação que chegou a levantar, “foi monitorado não só por todas as agências de segurança do Brasil na democracia e na ditadura, mas também pela CIA, pela KGB soviética e por vários organismos de segurança e espionagem da América Latina”, revelou Magalhães.

Carlos Marighella passou quatro vezes pela prisão, na qual deixou mais de sete anos de vida e onde sofreu uma tortura sistemática que lhe deixaria a marca indelével que fez com que, em liberdade, levasse sempre consigo cápsulas de cianureto para evitar ser detido com vida no caso de sofrer uma emboscada.

No dia 4 de novembro de 1969 não teve tempo de tirá-las de sua mochila porque 30 policiais da ditadura com armamento pesado dispararam contra ele em São Paulo, apesar de estar desarmado.

“Não lhe pegaram com vida porque não quiseram”, sentenciou Magalhães.

Anos antes, o poeta Marighella escreveu sobre a liberdade que durante anos lhe foi privada: “E que eu por ti, se torturado for, possa feliz, indiferente à dor, morrer sorrindo a murmurar teu nome”. EFE

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