Netanyahu, o grande perdedor de Viena

  • Por Agencia EFE
  • 14/07/2015 16h07

Ana Cárdenes.

Jerusalém, 14 jul (EFE).- Benjamin Netanyahu, o homem que se apresentou há três anos na Assembleia Geral da ONU com um peculiar desenho de uma bomba nuclear que o Irã estaria a ponto de alcançar, se tornou o grande perdedor de Viena, depois de o Grupo 5+1 fechar na manhã desta terça-feira um pacto nuclear com a República Islâmica.

Durante mais de três anos, o primeiro-ministro israelense repetiu sempre que pôde suas incessantes advertências sobre o perigo de permitir ao Irã desenvolver um programa nuclear e foi o dirigente mais abertamente contrário a qualquer pacto atômico com Teerã.

Finalmente, e apesar de sua ferrenha oposição, o acordo foi assinado nesta manhã na capital austríaca entre o Irã e as seis potências internacionais (China, Rússia, EUA, França, Reino Unido e Alemanha) após quase dois anos de negociação em que a União Europeia teve um importante papel.

Em cada fórum, cada visita oficial e em quase toda oportunidade em que Netanyahu tinha um microfone diante de si, repetiu sua mensagem linha dura contra o Irã e sobre a necessidade de não deixar o país desenvolver nenhum tipo de programa nuclear, nem mesmo o de uso pacífico, mesmo que permitido pelo Tratado de Não-Proliferação.

Sua rejeição plena às negociações nucleares levou o chefe do governo israelense a sérios atritos com seu principal aliado, os Estados Unidos, que chegou a ver em sua inconveniente insistência uma intromissão em sua política interna.

Esta irritação chegou ao seu ponto máximo em março, quando sem o consentimento da Casa Branca, Netanyahu se apresentou ao Congresso americano (de maioria republicana) para pedir sua oposição ao pacto assinado hoje, que representa o fim de 13 anos de litígio com a República Islâmica.

A líder do partido democrata da Câmara, Nancy Pelosi, denunciou então uma falta de respeito ao protocolo e à Casa Branca e disse que o discurso, que foi boicotado com a ausência de mais de 50 congressistas democratas, foi “um insulto à inteligência dos Estados Unidos”.

Exatamente no Congresso americano em que os dirigentes israelenses depositaram suas últimas esperanças de parar o que consideram “um pacto ruim” e um risco existencial para seu país por dois motivos: porque não interromperá o programa nuclear iraniano e porque, no seu entender, entre os objetivos do Irã está a aniquilação de Israel.

“Israel parece ter aceitado com má vontade a inevitabilidade do acordo nuclear iraniano e agora centra seus esforços em conter a aprovação do acordo no Congresso”, afirmou hoje o jornal “Yedioth Ahronoth”, que citou um assessor de Netanyahu assegurando que esse é “a última linha de defesa contra um pacto ruim”.

A linha de trabalho dos diplomatas israelenses estará em assinalar os erros do acordo, denunciar que permitirá ao Irã estar próximo da bomba nuclear em uma década e condenar atos provocadores iranianos, como a queima de bandeiras ou gritos de “Morte a Israel” e “Morte aos EUA”.

A iminência do pacto nos últimos dias não fez diminuir, mas aumentar os esforços de Netanyahu, cuja equipe abriu ontem uma conta no Twitter em persa de onde explicou sua posição contra o acordo, que a maioria dos iranianos vê como a oportunidade de finalmente acabarem as sanções econômicas e o isolamento internacional que estrangularam sua economia.

Esta manhã Netanyahu não hesitou em qualificar o acordo de “erro de proporções históricas”, mesmo que um de seus principais promotores fosse Washington.

Sua forma de lidar com a questão iraniana nos últimos anos, em que esse tema se transformou em um pilar da diplomacia israelense, foi duramente criticada nos últimos dias.

O chefe da oposição, o trabalhista Isaac Herzog, destacou em declarações ao “Yedioth Ahronoth” divulgadas hoje que “é inconcebível que se tenha chegado a este momento crucial com influência zero sobre o acordo” nuclear, o que qualificou de “resultado de uma falha pessoal e exclusiva de Netanyahu, que deu prioridade à sua vitória (eleitoral) em detrimento da relação com os EUA e dos interesses de segurança de Israel”.

O presidente do Yesh Atid e ex-ministro, Yair Lapid, chegou inclusive a pedir ontem a renúncia de Netanyahu.

“Pela forma como administrou o assunto no último ano, a porta da Casa Branca estava fechada para ele. Não tínhamos representante em Viena e agora pagaremos o preço de seu fracasso absoluto. Tem que renunciar porque sabe, melhor do que ninguém, que enquanto ele for primeiro-ministro os americanos não nos escutarão”, disse ao jornal “Maariv”.

Neste mesmo jornal, o analista Ben Caspit também afirmou hoje que “não importa como se olhe, isto é um fracasso pessoal de Netanyahu, que promove a si mesmo há duas décadas com uma só agenda: impedir que o Irã tenha capacidade nuclear. Essa é a tarefa que prometeu cumprir e fracassou: o Irã terá capacidade nuclear e (isso aconteceu) sob o olhar de Netanyahu”. EFE

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