O negócio “sagrado” da peregrinação a Meca
Suleiman al Assad.
Riad, 10 out (EFE).- A renda que a Arábia Saudita receberá em função da peregrinação a Meca vai superar US$ 8,5 bilhões neste ano, 3% a mais que a anterior, segundo os cálculos da câmara de Comércio da cidade saudita.
Do total dessa renda, 89% será oriunda dos peregrinos estrangeiros, e 11% dos sauditas. O estudo calculou que a despesa média de um peregrino local será do equivalente a R$ 3.156, enquanto o gasto médio de um peregrino vindo do exterior será de cerca de R$ 11.086. Grande parte da despesa dos estrangeiros é destinada à compra de lembranças, como acessórios de ouro e prata.
Este estudo considera que 30% das vendas de ouro no país é feita para os peregrinos durante a temporada deste rito, que é um dos cinco pilares do islã, junto com a oração cinco vezes ao dia, a esmola aos pobres, o testemunho de fé e o jejum no mês do Ramadã.
Além disso, o jornal “Al Watan” detalhou que o gasto médio por pessoa é de o correspondente a R$ 339 para transporte interno, R$ 1.090 para alimentação, R$ 334 para o sacrifício do carneiro e R$ 2.934 para hospedagem.
A infraestrutura das casas e hotéis no entorno da Grande Mesquita da cidade de Meca, onde está localizada a Caaba, recebeu muitas críticas, como, por exemplo, a da escritora saudita Al Makiya Alem, que recentemente classificou o templo, em um artigo, como sendo “um ponto em um mar de vidro e ferro”, devido à excessiva urbanização de um lugar tão sagrado.
Para Alem, a dimensão econômica da peregrinação à Meca ou a “hadjdj” ultrapassou a religiosa.
No entanto, o governo saudita se defende contra este tipo de crítica e afirmou, em várias ocasiões, que estes projetos visam proporcionar aos peregrinos uma hospedagem de qualidade nas proximidades da Caaba.
As torres “Abraj al Bait”, localizadas a 500 metros da Grande Mesquita, são consideradas uma obra-prima arquitetônica, e custaram cerca de US$ 3 bilhões (R$ 7,2 bi).
O preço da diária em uma suíte de luxo neste complexo de 15 mil apartamentos é de US$ 5,88 mil (R$ 14,1 mil) e a taxa de ocupação chega a 100% na maioria dos dias do ano.
Além disso, o complexo inclui em sua torre mais alta o famoso relógio de Meca, que está a cerca de 600 metros de altura.
Em declarações à Agência Efe, Sadiq al-Hassan, um morador da cidade, dono de lojas que vendem presentes perto do complexo, critica a construção dos edifícios porque, segundo ele, “foram erguidos sobre as ruínas do antigo castelo histórico de Ayyad”, da época otomana e destruído pela Arábia Saudita.
Embora as torres tenham resolvido a questão da distância para os peregrinos entre seus hotéis e a mesquita de Meca, Hassan lamenta que o lugar tenha se transformado em um monopólio dos ricos. “Que pobre poderia arcar com as tarifas deste hotel?”, acrescentou.
As despesas não se limitam somente ao pagamento da estadia. A alimentação é à parte e, de acordo com o jornal “Al Madina”, neste ano aumentou 35%.
O jornal apontou, por exemplo, que o preço de uma garrafa de água chegou ao equivalente a R$ 2,55, e o pão, a R$ 3,20.
Apesar de a renda da peregrinação ser menor em comparação com a riqueza do petróleo da Arábia Saudita, contribui para o desenvolvimento de grande parte dos comerciantes e investidores e representa 10% do PIB do país, de acordo com a estimativa do estudo. EFE
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