Obama fortalece seu legado, mas encara novos desafios após acordo com Irã

  • Por Agencia EFE
  • 14/07/2015 20h26

Lucía Leal.

Washington, 14 jul (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fortaleceu seu legado após o acordo alcançado nesta terça-feira sobre o programa nuclear iraniano, mas longe de poder descansar sobre os louros dessa vitória, enfrentará agora uma batalha no Congresso, que promete ser sangrenta, e muitas dúvidas sobre o futuro do Oriente Médio.

Junto da aproximação com Cuba, o acordo nuclear com o Irã promete se transformar no outro grande pilar do legado de política externa de Obama, e talvez na justificativa mais tangível do prêmio Nobel da Paz que ganhou em 2009, quando havia acabado de iniciar seu mandato e suas conquistas eram mais retóricas do que práticas.

“Hoje abrimos um novo capítulo em nossa busca por um mundo mais seguro e mais cheio de esperança”, afirmou um triunfal Obama na Casa Branca nesta terça-feira.

Longe de tornar o ambiente mais calmo, a expectativa é que esse novo capítulo aguce as tensões geradas em Washington e em parte do Oriente Médio durante os dois anos de negociações com o Irã, pelo menos nos próximos meses.

O Congresso americano tem 60 dias para revisar o acordo alcançado em Viena e deve votar em seguida, provavelmente em setembro, sobre se aprova ou não o acordo.

Os líderes republicanos, que controlam ambas as câmaras do Congresso, criticaram duramente o acordo com o Irã, mas Obama já advertiu que vetará qualquer projeto de lei que atrapalhe a implementação do pacto.

A oposição precisaria de dois terços para derrubar o veto de Obama, “mas parece pouco provável” que possam alcançar esse número, indicou Suzanne Maloney, especialista em Irã do centro de estudos Brookings.

No entanto, a questão sobre se Congresso torpedeará ou não o pacto nuclear “acentuará a incerteza durante os cruciais primeiros dias do acordo, quando estará mais vulnerável a possíveis reconsiderações ou subversões”, opinou Maloney.

Obama deve ligar para vários líderes do Congresso e organizar longas sessões informativas para explicar o conteúdo do acordo aos legisladores, e terá que aplicar o mesmo método para “vender” o pacto para seus dois aliados mais estratégicos na região, Israel e Arábia Saudita, profundamente céticos.

“O elenco de personagens no acordo com o Irã inclui um Congresso cheio de suspeitas, aliados furiosos, especialmente Israel, e um presidente que gera polarização”, resumiu Aaron David Miller, especialista em Oriente Médio do centro Woodrow Wilson.

“O acordo tem que passar ainda por um debate no Congresso, interpretações conflituosas de assuntos-chave e um longo processo de implementação, provavelmente cheio de obstáculos”, acrescentou Millers.

No longo prazo, o acordo enfrenta ainda a dúvida sobre se será respeitado pelo próximo presidente dos Estados Unidos. Vários dos pré-candidatos republicanos à Casa Branca nas eleições de 2016, como Jeb Bush e Marco Rubio, rejeitaram categoricamente o acordo.

“As negociações terão muito peso nas avaliações sobre as conquistas de Obama e sua doutrina em política externa, e por isso mesmo serão também tão significativas para os que pretendem sucedê-lo definirem seus próprios enfoques”, e no caso dos republicanos, traçar um claro contraste, segundo Maloney.

Enquanto isso, o governo de Obama deve estabelecer ainda como se relacionar a partir de agora com o Irã, uma vez suavizado o fator que mais tensão gerou entre os dois países ao longo da última década.

Obama disse hoje que o acordo pode permitir avançar em uma nova direção com o Irã, com quem os Estados Unidos não têm relações diplomáticas desde 1979, mas condicionou essa mudança a uma aposta do governo iraniano pela “tolerância”, deixando para trás as “ideologias rígidas”.

A Casa Branca salientou que as diferenças entre os dois países ainda são muito profundas, e não parece disposta a iniciar um processo de normalização de relações com o regime dos aiatolás como o promovido com Cuba.

Nesse caminho ainda estão as suspeitas dos EUA sobre o apoio dado pelo Irã ao regime de Bashar al Assad na guerra civil síria e ao grupo xiita libanês Hezbollah.

Nesse sentido, a bola está no campo do Irã, que poderia “endurecer seu comportamento para demonstrar que não tem intenção de se tornar um peão dos EUA, ou apresentar uma imagem mais cooperativa para conseguir mais apoio da comunidade internacional, o que parece menos provável”, segundo Miller.

“O que o Irã quiser fazer com os americanos que mantêm detidos será a primeira prova”, previu esse analista.

A mesma mensagem foi enviada hoje pela Casa Branca, ao pedir ao Irã que faça “um gesto humanitário” e liberte o pastor cristão Saeed Abedini; o jornalista do “Washington Post”, Jason Rezaian; e o ex-militar Amir Hekmati, todos eles detidos no país persa. EFE

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