Onde está a bússola moral do eleitorado trumpista?

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 18/07/2017 05h54 - Atualizado em 18/07/2017 09h00
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EFE/SZILARD KOSZTICSAK Muito mais difícil é entender a falta de bússola moral do eleitorado trumpista e de seus animadores na imprensa e no meio intelectual para não se indignar como deveriam com a interferência russa na vida americana

Eu posso até racionalizar os motivos que levaram o comando político do Partido Republicano a fazer o pacto com o diabo. Com Donald Trump na Casa Branca, é possível concretizar a agenda do partido que tem o controle do Congresso. Claro que tudo se mostra um problema dos diabos, pois até com esta hegemonia no poder a agenda não é aprovada.

Mas, muito mais difícil é entender a falta de bússola moral do eleitorado trumpista e de seus animadores na imprensa e no meio intelectual para não se indignar como deveriam com a interferência russa na vida americana. As reações variam de estado de negação à indiferença.

Houve um tempo em que havia uma visão demoníaca de Moscou nos EUA. O comunismo soviético acabou. No entanto, no poder em Moscou está aquele ex-coronel da KGB e a Rússia com seu arsenal nuclear continua sendo o único país capaz de pulverizar os EUA.

Não se trata de reeditar a Guerra Fria, mas de denunciar o apaziguamento em hostes conservadoras das ações russas. Agora são as revelações de mentira atrás de mentira sobre o encontro do filho, do genro e do ex-chefe de campanha eleitoral de Trump com os russos para descolar sujeira sobre Hillary Clinton. Do jeito que as coisas caminham, vamos descobrir que até o Doutor Jivago esteve na reunião na Trump Tower na Quinta Avenida.

E qual a reação? Inventar teorias conspiratórias de que o encontro foi tramado pelos democratas ou se enrolar no mais estreito legalismo para safar a família Trump. O mero encontro é uma prova de degrinogolada moral.

Na máquina de agitação e propaganda trumpista, existem contorcionismos que não podem ser descritos como bizarros, pois se inserem num processo de normalização do que está aí.

Um conhecido radialista e suposto intelectual conservador chamado Dennis Praguer denunciou o seguinte no fim de semana: A imprensa no Ocidente representa um perigo muito maior à civilização ocidental do que a Rússia. E de pensar que intelectuais conservadores costumavam reagir de forma apoplética à camaradagem liberal com os russos.

Inútil ser mordaz com esta gente, mas vamos lá: sim, o Washington Post invadiu a Geórgia, na Europa Oriental, a CNN anexou a Crimeia e o New York Times derrubou o avião malaio na Ucrânia há três anos.

Também no fim de semana, uma apresentadora de programa na Fox News, Jeannie Pirro, defendeu o encontro de Donald Júnior com os russos dizendo que vale tudo, inclusive compactuar com o diabo (aqui ela foi literal) para derrotar alguém como Hillary Clinton.

O diabo Putin está vencendo o país que se arrogava campeão das forças do bem, da civilização ocidental.

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