Palestina terá duas novas santas que serão canonizadas pelo papa Francisco
Daniela Brik.
Jerusalém, 19 fev (EFE).- Para muitos, o anúncio feito no dia 14 de fevereiro pelo papa Francisco, da canonização de três religiosas beatas e da nomeação de 20 novos cardeais, passou despercebido, mas não para a igreja palestina na Terra Santa, que a partir de 17 de maio possuirá duas novas santas.
Em um comunicado, divulgado no site do Vaticano, o papa Francisco disse que “Maria Alfonsina, fundadora da Congregação das Irmãs do Rosário de Jerusalém, e Maria de Jesus Crucificado, monja professa da Ordem Carmelita Descalça, serão canonizadas”.
Tanto a igreja católica local como os palestinos em geral aprovaram o anúncio, que acreditam, servirá de exemplo para os fiéis e como tributo para as religiosas, que desempenharam seu trabalho no berço do cristianismo.
Ao receber a notícia, em Roma, o patriarca da igreja católica Fouad Twal, expressou sua “imensa alegria, e a da Terra Santa, que está encantada com a canonização dessas duas mulheres palestinas da diocese de Jerusalém. Elas são nossa luz e consolo diante de nossas dificuldades”.
Twal agradeceu a todos os que trabalharam para que a vida das religiosas beatas se tornasse conhecida e aproveitou para convidar os fiéis para as comemorações que acontecerão em Roma e na Terra Santa (Jerusalém, Belém e Nazaré – atualmente território de Israel), em função da canonização.
Com essa decisão, Francisco realiza um antigo desejo da comunidade católica local, que teve oportunidade de reforçá-lo na peregrinação à Terra Santa, realizada pelo papa em maio de 2014.
Mariam Baouardy, conhecida como Maria de Jesus Crucificado, nasceu em 1846 em Eblin, perto de Israel e cresceu em uma família de religião greco-católica melquita, mas ficou órfã ainda jovem e acabou sendo adotada por um tio paterno que a levou para cidade de Alexandria, no Egito.
Aos 13 anos, Mariam fugiu de casa para não ser obrigada a se casar. Os autores de sua biografia contaram que certa vez um muçulmano tentou força-la renegar de sua fé cristã, mas a Irmã se recusou a fazê-lo, e então o homem cortou sua garganta.
Ao despertar deste ataque, Mariam foi atendida e tratada em uma caverna por uma mulher que identificou como a Virgem Maria.
À religiosa são atribuídos dons místicos, como levitação, estigmas de Cristo, visões de santos, o dom de compor salmos apesar de seu analfabetismo, entre outros.
Mariam morou em Jerusalém, Beirute e Marselha até chegar à Carmelo de Pau, na França, onde adotou o nome religioso e fundou em 1875, com outras carmelitas, o Carmelo de Belém, cidade onde morreu em 1878. Sua beatificação foi efetuada em 1983 por João Paulo II.
Já Maryam Sultanah Danil Ghattas, conhecida como Maria Alfonsina, nasceu em Jerusalém em 1843 e decidiu se dedicar à vida religiosa aos 14 anos. Sua missão, assim como defendeu Bento XVI ao beatifica-la em 2009, em Nazaré, se deu através do ensino, ao “vencer o analfabetismo e melhorar as condições das mulheres de seu tempo, na terra onde o próprio Jesus exaltou sua dignidade”.
Maryam fundou escolas e abrigos para religiosas na Galileia e graças a ela a Congregação das Irmãs do Rosário de Jerusalém é considerada como braço direito do Vaticano, com escolas, paróquias e instituições em toda a região. A religiosa morreu no bairro de Ein Karem, no sul de Jerusalém, em 1927.
“A medida reafirma o papel dos cristãos na história da Palestina, ao canonizar pessoas vinculadas à educação e cujas instituições existem até hoje”, disse à Agência Efe o porta-voz do Departamento de Negociações da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Xavier Abu Eid.
Abu Eid disse que foram tomadas medidas de coordenação entre os governos da Palestina e da Santa Sé, em conjunto com o Patriarcado Latino, “para fazer desta canonização o evento memorável que as duas santas merecem”.
O Executivo palestino avalia enviar um representante do mais alto nível para participar dos atos oficiais.
Após a notícia vir à tona, várias agências de viagem palestinas já preparam pacotes turísticos, para os quem desejarem ir ao Vaticano para participar das cerimônias.
“Fato semelhante não acontece desde a Idade Média. Pode-se dizer que estas serão as duas primeiras santas palestinas canonizadas na história moderna, o que para nós é um evento histórico”, afirmou orgulhoso Wadi Abu Nasar, porta-voz do Vaticano em Israel. EFE
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