Para que Bolsonaro insiste no discurso antivacina?
Para o presidente, as evidências comprovadas cientificamente parecem não ter resultado, sendo acobertadas por opiniões fora de prumo, que negam a ciência e suas descobertas
Depois de muita polêmica sobre o uso ou não das máscaras, a eficácia das vacinas e outros temas que, para mim, mero mortal, parecem óbvios, o nosso presidente Jair Bolsonaro decidiu colocar mais “lenha na fogueira” em seus últimos depoimentos. Na quinta-feira, 7, Bolsonaro voltou a desencorajar a imunização contra a Covid-19, com falas desencontradas e sem sentido lógico. O depoimento ocorreu durante a cerimônia de Modernização de Normas de Segurança e Saúde no Trabalho, no Palácio do Planalto. Em sua fala, o chefe do Executivo alegou que, entre o público menor de 20 anos, as taxas de mortalidade diminuíram e se pronunciou: “Para que vacina?”. Dentre outras falas descabidas, destacam-se: “Estamos pagando o preço da política do ‘fique em casa e a economia a gente vê depois’; “Ninguém vai ganhar a guerra dentro de casa”, e tantas outras manifestações sem nexo, que deixam qualquer um confuso e desacreditado. A repercussão do posicionamento de Bolsonaro, fora do Brasil, tem sido bastante negativa, gerando comentários irônicos e até mesmo cômicos em relação ao presidente brasileiro. Vergonha nacional.
Não bastando isso, durante o evento, o presidente perguntou ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre a taxa de infecção do público jovem, dizendo que se tratava de um “negócio” e que o mundo inteiro está vivendo na hipocrisia. Vou ser absolutamente sincero aqui: é lamentável ter que ouvir isso de um homem público que ignora a eficácia das vacinas e parte para o ataque, mesmo que os dados numéricos provem o quanto milhares de vidas têm sido salvas com os imunizantes. O que mais me surpreende é que as evidências mundiais sobre os resultados positivos das vacinas não seduzem o presidente brasileiro; pelo contrário, em suas aparições em público, como se não bastasse as falas inapropriadas, o presidente faz questão de mostrar a cara, sem máscara. Mas esconde, com isso, suas reais intenções, vestindo-se de uma prepotência que é incapaz de enxergar a realidade dos fatos. A pergunta que faço é muito simples: para que isso?
Vamos aos fatos. No que se refere à eficácia das vacinas em grupos com mais de 60 anos, dados recentes comprovaram que já salvaram mais de 55 mil idosos no país. O estudo feito pelo epidemiologista Marcelo Gomes, do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revelou que milhares de hospitalizações de pessoas com mais de 60 anos foram evitadas. Esse número estava, em julho deste ano, em torno de 96 mil e 117 mil, embora essa faixa de idade seja considerada grupo de risco, portanto, com mais chance de ocorrerem agravantes e óbitos pela doença. De acordo com o pesquisador, “não se trata de uma análise científica rigorosa, mas de uma avaliação simplificada para obter estimativas de ordem de grandeza do impacto que já podemos ter alcançado com a campanha da vacinação. Ou seja, não serve para termos valores precisos do impacto, e sim avaliar se estamos falando de dezenas, centenas e milhares de vidas, por exemplo”. Mas, para Bolsonaro, as evidências comprovadas cientificamente parecem não ter resultado, sendo acobertadas por opiniões fora de prumo, que negam a ciência e suas descobertas. Para mim, uma péssima postura, que denigre a imagem de nosso país e estimula a população desinformada a seguir os passos do chefe de Estado, que se coloca contra os fatos. Era hora de unir o Brasil em torno da vacinação.
Vale deixar claro aqui: questionamentos fazem parte da democracia e a ciência precisa disso. O que é completamente diferente da propagação de fatos inverídicos, que atentem diretamente contra a saúde do povo brasileiro. A desinformação atinge em cheio também as redes sociais, como se viu recentemente em uma live, outra fala infeliz de Bolsonaro, ao se referir às vacinas como algo não recomendado para quem já teve Covid-19. Mais uma fake news. De posse dessa informação, o presidente foi contra tudo aquilo que os órgãos internacionais e nacionais de saúde recomendam. Para que? Eu realmente não consigo entender onde será que o presidente pretende chegar com isso, disseminando informações falsas, mentindo em lives, eventos e reuniões com sua equipe. São devaneios atrás de devaneios. Todos absolutamente desnecessários. Usemos de bom senso. Ouçamos a ampla maioria da ciência. Saúde.
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