Sobre ser pai: devemos investir no tempo de permanência com nossos filhos
Amem seus filhos, que um dia serão pais, e terão vivido o suficiente para compreender suas ações, por mais inapropriadas que possam ter sido
Neste domingo, 8, se comemora o Dia dos Pais. O que isso representa? Qual o significado que esta palavra tem para cada um de nós? Para mim, é o de refletir. Pai da Helena há dois anos, acredito que minha interpretação à respeito da paternidade está em fase de construção. Percebo, com o passar do tempo, a responsabilidade que assumimos ao trazer um novo ser, dependente de nós e, ao mesmo tempo, livre para seguir o seu caminho. Na maternidade, “pai de primeira viagem”, passou por mim um filme sobre minha infância, meu pai, erros e acertos, julgamentos imprecisos, alegrias e desapontamentos. “E agora José?” Estaria eu pronto pra embarcar nessa aventura sem volta? O tempo dirá. Espero ter mais acertos do que erros nesta empreitada, que está apenas começando. E que todos os pais – presentes, autoritários, ausentes, permissivos, responsáveis, superprotetores – e tantos outros, possam tirar o dia de hoje para pensar. Comemorem a data, mas repensem seu lugar de pai. Busquem respostas para tantas dúvidas que surgem com o passar dos anos. Mas acima de tudo, amem seus filhos, que um dia, como vocês, serão pais, e terão vivido o suficiente para compreender suas ações, por mais inapropriadas que possam ter sido.
Ao longo da história, a figura do pai tomou lugares diversos na sociedade. Durante o período da chamada “Paternidade Patriarcal”, no mundo todo, o pai representava a figura de poder no núcleo familiar. Sua autoridade era bem aceita por todos os membros da família, em uma sociedade tipicamente agrícola. Esse modelo perdurou até o início do século XIX, porém, em meados do século XVIII, mudanças ocorreram, em função do declínio da sociedade agrícola, quando os filhos começaram a se deslocar para as cidades, longe do controle dos pais. Entre 1800 e 1880, com o processo de urbanização da classe média, os pais passaram a ser provedores econômicos, delegando às mulheres a administração da casa e a educação dos filhos. Porém, esses pais ainda agiam como “chefes da família”. Com a industrialização, nos séculos XIX e XX, se iniciou a “Paternidade Moderna”, de 1880 a 1970. Nesse período, em razão do trabalho fora de casa, os pais passaram a se ausentar por mais tempo, iniciando-se um novo tipo de relacionamento familiar. Nas décadas de 30 e 40, com a Segunda Guerra, os homens perderam sua mais importante função como pais, no período – de provedor econômico — e as mães se tornaram a força de trabalho, principalmente nos países envolvidos no conflito. Hoje, o pai ocupa um lugar especial na evolução psicológica dos filhos, em que, além de ser importante para os vínculos emocionais, tornou-se uma figura essencial para o desenvolvimento social, cognitivo e linguístico. Para Parke (1986), a figura do pai tem efeitos imediatos na interação pai-bebê e sua participação se estende ao longo de todo o futuro, imprimindo características que irão moldar o processo evolutivo dos filhos. Para este psicólogo, é hora da família se repensar como um sistema em que os elementos estão em relação dinâmica o tempo todo, com influências em todas as direções. Com isso, nós, pais, devemos investir no tempo de permanência com nossos filhos, a fim de que essas trocas possam ser realizadas. Não é tarefa fácil, mas possível.
Com o passar do tempo, novos modelos de família foram se estruturando, com mães e pais solteiros, filhos com dois pais e uma mãe, dois homens pais de uma criança, a fusão de duas famílias, avós e netos morando sob o mesmo teto, irmãos unilaterais. Com essas mudanças, o modelo patriarcal do passado perdeu força, alterando o modelo triangular – pai, mãe, filho. No Brasil, com a Constituição de 1988, a família passou a ser considerada a partir dos laços afetivos que se formavam entre seus membros. Quando penso na morte recente do humorista Paulo Gustavo, que deixou um legado como artista e, acima de tudo, como pessoa, acredito que sua partida significou muito mais do que isso. Paulo Gustavo, pai de Romeu e Gael, ao lado de seu companheiro Thales, deixou um legado perante à sociedade. No ano passado, no Dia dos Pais, o ator se declarou aos filhos: “Hoje é dia de celebrarmos aquela figura que nos oferece cuidado, apoio, força, suporte, afeto, carinho e amor! Muito amor! Seja ela pai, padrasto, avô, tio, amigo, e as mães que criam seus filhos sozinhas”. E eu concordo com ele. Acima de tudo, a figura de um pai, seja como for, é a imagem de segurança. O desafio é imenso e difícil, mas que nos transforma pra melhor como seres humanos. Para terminar minha reflexão, peço permissão ao escritor José Saramago, para fazer minhas suas palavras: “Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos, e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo!”. Nada a dizer, somente aplaudir. Comemoremos nosso ou nossos dias que estão por vir. Sejamos pais próximos, com erros e acertos, para que nossos filhos possam seguir seu caminho em paz. Feliz Dia dos Pais a todos.
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