Pesquisadores acreditam que agricultura pode ter surgido há 23 mil anos
Daniela Brik.
Jerusalém, 23 jul (EFE).- Descobertas feitas em um assentamento do Período Neolítico na Galileia, no norte de Israel, lançaram luz sobre os primórdios da agricultura de 23 mil anos atrás, 11 mil anos antes da época em que são datadas as primeiras tentativas do ser humano de praticar esta técnica.
A região do Crescente Fértil, no Oriente Médio, é considerada o “Berço da Civilização”, já que foi onde os nômades se tornaram sedentários e se estabeleceram em comunidades agrícolas, uma revolução que teria acontecido há 12 mil anos. Mas um grupo interdisciplinar de arqueólogos, botânicos e ecologistas das universidades israelenses de Bar-Ilan, Haifa e Tel Aviv, em parceria com a americana de Harvard, publica um estudo na atual edição da revista científica “Plos One” derrubando a data aceita para o começo da prática de cultivo.
“O mais incrível de nossa pesquisa é que, pela primeira vez, encontramos cevada e trigo de 23 mil anos em um assentamento de caçadores-agricultores no Mar da Galileia e descobrimos que já tinham começado a cultivar”, explicou à Agência Efe o professor Ehud Weiss, do Departamento de Estudos da Terra de Israel e Arqueologia da Universidade Bar-Ilan.
O lugar da descoberta é conhecido como Ohalo II, uma região de caçadores, pescadores e agricultores, que viveram no litoral do Mar da Galileia durante o Epipaleolítico, onde foram encontradas seis cabanas, um túmulo, partes bem conservadas de animais e plantas, assim como colares de pérolas do Mediterrâneo e utensílios de pedra.
O ponto fica a 9 km ao sul da moderna cidade de Tiberíades e foi descoberto em 1989, quando as águas do lago baixaram por conta de uma seca.
As conclusões da pesquisa se baseiam em três aspectos. O primeiro é a presença de uma maior quantidade de trigo e cevada plantados do que do tipo selvagem.
“Temos uma porcentagem de 40% de restos de plantas mais ásperas do que as selvagens, que costumam ser mais brandas. Isso significa que geneticamente houve alguma modificação”, explicou o professor.
Conforme disse, isto demonstraria que o plantio e o cultivo de cereais nesta comunidade antiga podem ter sido mantidos por anos.
Em segundo lugar foi observada uma grande quantidade de ervas daninhas que, inicialmente, só tinham sido descobertas 11 mil anos depois, data tradicionalmente aceita para o início da agricultura.
Por último, as análises das ferramentas achadas revelaram a existência de foices e raspadores de sílex usados para cortar e colher cereais e acredita-se que sejam os mais antigos encontrados até hoje.
Outros aspectos que reforçam o estudo são as 150 mil partes de plantas que apareceram em alguns habitáculos, o que mostra que os habitantes chegaram a reunir mais de 140 espécies de plantas locais. Entre estas mostras há cereais comestíveis, como cevada e aveia silvestres, misturadas a 13 espécies de ervas daninhas.
“Todas as descobertas deste lugar refletem o quão sábias eram as pessoas há 23 mil anos e que sabiam usar os recursos do entorno de maneira eficiente”, explicou Weiss.
Contudo, ele se mostra cauteloso na hora de datar o começo da agricultura e classifica a descoberta como uma “tentativa de cultivo”.
“Segundo as evidências, podemos garantir que começaram a cultivar cereais, mas aparentemente não foi um evento que se prolongou no tempo e existe uma lacuna de mais de 10 mil anos de quando tudo começou do zero e até a ação bem-sucedida”, ressaltou Weiss.
A revolução agrícola não muda apenas a sociedade, mas o planeta e acredita-se que precedeu aos assentamentos humanos, e pôde promover o desenvolvimento e surgimento das propriedades e da civilização como as concebemos hoje.
Weiss destacou que a agricultura representa uma mudança nas relações entre homens e mulheres, pois a etapa de colheita era mais igualitária, mas o homem passou a ser dominante com o aumento dos recursos e pelo fato de saber utilizar sua influência.
“Isso representou uma grande mudança na sociedade estabelecida e influenciou o aparecimento de tecnologia, porque o ser humano dispôs de mais tempo livre”, concluiu o professor. EFE
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