Qual tipo de prática sexual está permitida no Irã? Consulte um aiatolá
Artemis Razmipour e Álvaro Mellizo.
Teerã, 17 jun (EFE).- A sodomia é pecado? O casamento temporário é uma solução para masturbação? É lícito se tocar durante o Ramadã? Resolver estas dúvidas explícitas e delicadas é uma tarefa imposta no Irã aos aiatolás, cujos escritórios recebem milhares de consultas para conciliar a lei islâmica com a vida cotidiana.
O alto clero xiita, que desde a Revolução Islâmica de 1979 maneja as estruturas do poder no Irã e tem a última palavra sobre as normas legais e morais, dirige também uma ampla rede de consultórios sobre a sharia (lei islâmica).
Esses espaços foram idealizados para solucionar os conflitos que a rigidez da legislação causa aos cidadãos, um trabalho do qual não escapa sequer o líder supremo do país, Ali Khamenei.
Dezenas de publicações e páginas na internet, além de encontros públicos em centros sociais e mesquitas, servem aos aiatolás – título hierárquico que autoriza a seu possuidor a emitir sentenças e criar jurisprudência sob a sharia – e a seus ajudantes para tirar estas dúvidas.
Nas consultas, que abrangem todos os tipos de aspectos da vida social, têm uma presença muito importante as práticas relacionadas com a vida íntima e sexual dos iranianos preocupados em viver sob estritos critérios islâmicos.
No Irã, um país onde se exerce uma estrita segregação por sexo desde o primeiro grau escolar, surpreende ver as mulheres tirar suas dúvidas mais privadas com os clérigos para encontrar uma solução para seus desejos sem cometer pecado.
Precisamente, e para permitir estas e outras consultas, os clérigos xiitas são considerados “mahram” para as mulheres, ou seja, pessoas de sexo oposto com as quais se pode ter contato direto, algo que geralmente está limitado a pais, irmãos e maridos.
“O Islã proíbe muitas coisas, mas ao mesmo tempo tem uma solução para cada pecado que tenha cometido”, disse à Agência Efe Maryam uma jovem religiosa de 28 anos, que assegurou que “cumprir com essas normas garante a vida depois da morte e evita que Deus me leve ao inferno”.
Para o clérigo Abdolali Govahi, um dos encarregados de responder dúvidas sobre a sharia em uma mesquita do norte de Teerã, a importância de estabelecer este sistema se deve “às necessidades morais do ser humano” e busca somente orientar e “dar alimento à espiritualidade e à alma” das pessoas.
Uma das vantagens ou inconvenientes do sistema é que cada aiatolá pode, e em várias ocasiões, consultar de distintas maneiras seus colegas sobre um tema concreto, o que pode gerar confusão em alguns casos e aliviar consciências em outros.
Práticas sexuais como a sodomia é uma das dúvidas mais apresentadas pelos iranianos, e para ela há uma ampla diversidade de opiniões entre o clero xiita.
Deste modo, há os que a consideram estritamente “haram” ou proibida pela lei islâmica, enquanto outros como o próprio Khamenei apontam que é algo permitido sempre e quando o casal estiver de acordo.
Já o destacado grande aiatolá Makarem Shirazi a considera “indesejável” e recomenda não praticá-la “por precaução necessária”, embora não seja “haram”.
Apesar de grande parte das respostas estarem cheias de bom senso e, em algumas ocasiões, de recomendações para buscar ajuda médica ou psiquiátrica, outras por outro lado estão infestadas de complexas interpretações religiosas que levam a soluções um tanto estrambólicas para o não iniciado.
Como exemplo, o líder supremo tranquilizou os crentes que queiram tocar em seus companheiros durante o mês sagrado do Ramadã, no qual o sexo é proibido, e afirmou em um de seus livros que trata-se de algo “lícito” sempre que não haja ejaculação.
No entanto, uma pessoa não estaria autorizada a beijar o companheiro, já que implicaria ingerir líquidos, algo que é proibido porque romperia com o jejum.
Do mesmo modo, uma pessoa pode beijar qualquer parte de seu companheiro, mas com a ressalva de que essa parte não esteja úmida por nenhum motivo.
Em outra interpretação um tanto confusa para o leigo, o grande aiatolá iraquiano Ali Sistani autorizou as relações sexuais durante o Ramadã, sempre e quando a penetração não vá além do prepúcio e não haja ejaculação. EFE
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