Conheça cinco modelos de educação híbrida que podem ser implantados nas escolas brasileiras
Gestores e educadores devem estar bem preparados para lidar com situações adversas e que adotem os modelos com muita flexibilidade
Em 2020, nossas vidas viraram de ponta-cabeça. O coronavírus ocasionou uma mudança drástica em nossas rotinas e, também, na rotina das nossas escolas. A educação foi fortemente impactada, sendo que muitos alunos não tiveram acesso à educação durante todo o ano. No ano de 2021, teremos novos desafios a serem enfrentados. Se no ano passado a tônica foi o ensino remoto, neste ano deveremos ter como foco a educação híbrida, em que parte do processo de ensino e aprendizagem ocorrerá de forma presencial, nas escolas, e parte acontecerá de forma remota, como foi em 2020. Essa mescla de presencialidade e não presencialidade do aluno exigirá novas competências dos professores e dos gestores escolares. Enquanto os professores deverão roteirizar e planejar como se dará o processo de aprendizagem dos alunos nesse novo modelo e quais as novas metodologias que deverão lançar mão, os gestores deverão escolher os modelos de educação híbrida a serem implantados em cada escola ou sistema, debruçar-se sobre aspectos logísticos de como conciliar a carga horária dos docentes nos modelos escolhidos, bem como garantir meios de proteção de professores, alunos e funcionários nos momentos presenciais frente à possibilidade de contaminação do coronavírus. Enfim, novos desafios se colocam para todos os profissionais de educação nesse novo ano de grandes aprendizados.
Há vários modelos para a implantação da educação híbrida que as escolas e sistemas de ensino poderão adotar enquanto o coronavírus estiver presente como um risco à saúde em geral. Vale ressaltar que esses modelos não devem ser confundidos com metodologias a serem adotadas pelos professores. Como esse artigo não se propõe a discutir metodologias para a educação híbrida, os modelos aqui propostos foram construídos com base em outros modelos de educação híbrida já consagrados na educação básica, como os propostos por Horn & Staker (2015) e por inspiração de novos modelos que estão sendo implantados por escolas e sistemas de ensino do Brasil e do exterior neste momento de pandemia. Destacamos aqui cinco modelos entre muitos que podem ser implantados nas escolas. É importante ressaltar que a educação híbrida não se limita aos modelos aqui apresentados, pois o conceito de hibridismo é muito mais amplo. Segundo o pesquisador e professor José Moran, na educação híbrida há a possibilidade de ocorrer várias misturas: de saberes e valores, quando se integram várias áreas de conhecimento e, também, na mistura de metodologias, com desafios, atividades, projetos, games, em grupo e individuais, colaborativos e personalizados.
Outro ponto importante a se destacar é que a escola ou sistema de ensino não deve se limitar ao uso de um modelo único exclusivamente, especialmente neste momento de excepcionalidade em que as necessidades e possibilidades de alunos e professores são plurais. Sugere-se que a escola ou sistema de ensino combine mais de um modelo, pois isso facilitará o acesso nas diferentes situações, considerando limitações e viabilidades de todos os atores do processo educacional. Para entender melhor os modelos de educação híbrida é importante esclarecer os conceitos sobre atividades de aulas síncronas e atividades de aulas assíncronas. Isso se faz necessário, pois os modelos a serem apresentados estão amplamente ancorados nesses conceitos. Aula ou atividade síncrona é aquela em que o professor e o aluno participam ao mesmo tempo, ou seja, é uma atividade “ao vivo”. Aula ou atividade assíncrona é aquela em que o professor e o aluno estão desconectados temporalmente, ou seja, não estão trabalhando ao mesmo tempo, ou seja, o professor produz a atividade ou a aula em um momento e o aluno irá desenvolver as atividades ou assistir às aulas em outro momento.
Cinco modelos de educação híbrida
1-Modelo Híbrido Presencial Síncrono: Este modelo combina atividades presenciais na escola com atividades não presenciais. Neste modelo, a escola deve dividir as turmas em subgrupos, de acordo com a capacidade das salas de aula, atendendo às normas de distanciamento entre um aluno e outro. Se, por exemplo, uma turma tiver 30 alunos e a sala de aula só comportar 10 para atender a esse distanciamento, a escola, para essa turma, deverá formar três subgrupos. Em cada etapa (parte de um dia de aula, dia inteiro de aula, dias seguidos de aula) um dos subgrupos de alunos vem para a escola para ter aula presencial e os demais subgrupos ficam em casa. Os professores ministram as aulas na escola com a presença dos alunos que estão presencialmente e a mesma aula é transmitida, simultaneamente, em alguma plataforma dedicada a isso, para os alunos que estão em casa, ou seja, todos os alunos assistem à mesma aula no mesmo tempo. Em cada etapa, os subgrupos vão se alternando, permitindo assim que todos os alunos tenham parte das aulas presenciais e parte das aulas recebidas de forma síncrona.
2-Modelo Híbrido Presencial Assíncrono: Este modelo também combina atividades presenciais com não presenciais. É muito similar ao Modelo Híbrido Síncrono, porém as aulas, em vez de serem transmitidas ao vivo, são gravadas. Assim, os alunos que estão presencialmente assistem às aulas ao vivo, e os que estão em casa assistirão às mesmas aulas gravadas, mas em momento posterior. Faz-se necessário aqui a existência de alguma plataforma para disponibilizar as aulas gravadas aos alunos.
3-Modelo Híbrido Presencial Replicado: Assim como os dois modelos anteriores, este modelo também combina atividades presenciais com não presenciais e exige a criação de subgrupos de alunos. Neste modelo, o professor separa parte dos conteúdos para ser trabalhado presencialmente com os alunos e parte para ser trabalhado de forma assíncrona. A proporção do que é trabalhado presencialmente depende essencialmente da quantidade de subgrupos. A parte do conteúdo que o professor separou para ser trabalhado presencialmente será ministrada para todos os alunos, de forma alternada, ou seja, essa mesma aula é replicada, presencialmente, para todos os subgrupos.
4-Modelo Híbrido Presencial de Suporte: Neste modelo o professor trabalha com todos os conteúdos remotamente, seja de forma síncrona e/ou assíncrona, utilizando, possivelmente, um dos quatro primeiros modelos aqui apresentados. O professor utiliza os momentos presenciais apenas para atividades extracurriculares, de apoio pedagógico, de avaliação da aprendizagem ou em atividades de reforço ou recuperação.
5-Modelo Híbrido Segmentado: Neste modelo o professor cria dois subgrupos, não necessariamente de mesmo tamanho. Um subgrupo (A) é formado por alunos que têm preferência por aulas remotas ou que não tenham condições de assistir às aulas presenciais. Outro subgrupo (B) é formado por alunos que podem e desejam ter aulas presenciais. Para o subgrupo A o professor trabalhará com todos os conteúdos de forma remota utilizando, possivelmente, um ou mais dos quatro primeiros modelos aqui apresentados. Para o subgrupo B o professor trabalhará todo o conteúdo de forma presencial. O subgrupo B deverá ter um tamanho que permita que todos os alunos assistam às aulas presenciais juntos e em segurança.
Cada escola, cada rede de ensino, deverá analisar quais os melhores modelos a serem implantados em cada momento/fase do ano. É importante que os gestores e educadores se preparem bem para lidar com situações adversas e que adotem os modelos com muita flexibilidade. Também é importante a formação e desenvolvimento dos professores para lidar com a educação híbrida, principalmente com a perspectiva de utilizar esse conhecimento e toda a experiência adquirida após o período de pandemia. Não há dúvidas de que a educação híbrida, se bem implantada, pode contribuir, e muito, com a qualidade da educação brasileira, principalmente com a ampliação da jornada de estudos dos alunos.
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