Enem 2020: Fazer ou não fazer? Eis a questão

O adiamento do Enem neste momento pode impor à educação superior brasileira a perda do primeiro semestre de 2021, ou até mesmo a perda do ano letivo de 2021

  • Por Renato Casagrande
  • 12/01/2021 10h00 - Atualizado em 12/01/2021 12h13
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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil pessoas mexendo em prova do enem Enem 2020 deve acontecer nos próximos dias 17 e 24 de janeiro.

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi instituído em 1998 com o intuito de avaliar o desempenho de estudantes ao final da educação básica. Com a reformulação, em 2009, o exame passou a ser uma ponte para o acesso ao ensino superior. Esta edição do Enem, que conta com quase 6 milhões de candidatos inscritos, já viveu grandes impasses. Devido à pandemia, a aplicação das provas precisou ser revista e já foi adiada mais de uma vez. Agora, está marcada para os próximos dias 17 e 24 de janeiro. Mas há uma semana da aplicação do exame surgem novos questionamentos de estudantes, professores, familiares e especialistas. Mais uma vez vivemos um imbróglio com relação à data das provas. Fazer ou não fazer o Enem agora? Os especialistas se dividem quanto à mudança de prazo. Alguns defendem novamente o adiamento enquanto outros afirmam que é preciso fazer de uma vez por todas o exame. E agora? O que fazer?

A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), em São Paulo, realizou suas provas neste último dia 10, adotando todas as medidas e protocolos recomendados. Tivemos algum problema? Se a Fuvest realizou o exame com poucas críticas, por que há tanto embate com o Enem? O que difere? Acredito que o principal problema que diferencia o Enem da Fuvest é o número de candidatos. Enquanto a Fuvest consegue ter um controle mais rígido sobre a aplicação das provas e o cumprimento das medidas de higiene e distanciamento, não temos a mesma segurança com à aplicação do Enem. Contudo, os protocolos de segurança informados pelo Inep estão adequados às normas e ainda são aprovados por epidemiologistas e infectologistas, visto que não haverá contato físico e o distanciamento entre os candidatos está estipulado em 2 metros de distância, bem como a redução de 50% da capacidade de cada sala onde será realizada a aplicação das provas.

Um segundo problema elencado há tempos é que muitos alunos que vão prestar o Enem não tiveram as mesmas oportunidades que outros. Vimos que em muitas escolas, principalmente as públicas, o ensino remoto foi muito precário. Em depoimento recente a um programa de televisão, uma aluna que concluiu o ensino médio no ano passado afirmou que só teve aulas online no terceiro ano nas disciplinas de língua portuguesa e matemática. No entanto, sabemos que essas diferenças entre alunos que estudam em escola ou sistema X ou Y sempre houve e continuará havendo. Alguns alunos prestam cursinhos, têm aulas em tempo integral, estudam em estabelecimentos com laboratórios de diversas disciplinas, com biblioteca com ótimo acervo e ainda contam com uma estrutura tecnológica que os permite participar da prova com grandes vantagens competitivas. O problema é que com a pandemia essas vantagens se ampliaram e muito. Estudantes de escolas com melhores estruturas puderam participar das aulas no último ano letivo com aulas quase que regulares (mesmo que remotas), e assim tiveram melhores chances na realização da prova.

Então esse seria um bom motivo para adiar o exame? Acredito que não resolveria o problema. Esses alunos que tiveram prejuízos de aprendizagem no último ano não poderão se recuperar em cerca de dois ou três meses. Mesmo assim, quanto mais tempo se adiar a prova, mais tempo também esses outros alunos que têm maiores vantagens terão para se preparar. Assim, a diferença entre esses grupos de alunos persistirá. O adiamento ou a não da realização do Enem agora, segundo palavras do Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares do Brasil, professor Ademar Pereira, pode impor à educação superior brasileira a perda do primeiro semestre de 2021, ou até mesmo a perda do ano letivo de 2021. O que acredito ser viável é que se oferte, além dessa edição prevista, uma nova data de provas na metade do ano, permitindo que os alunos que não conseguirem bom desempenho nesta prova ou que por algum motivo não consigam realizar o exame agora possam realizá-lo um pouco mais tarde.

É importante lembrar que muitos alunos também aproveitam essa desorganização do sistema para justificarem seu baixo rendimento. Mas, temos hoje muitas possibilidades de estudo fora da sala de aula ou da escola. Se o aluno tiver acesso à internet temos hoje, gratuitamente, muitas plataformas com todo o conteúdo exigido na prova e com grande qualidade. Os alunos do ensino médio já deveriam ter maturidade e autonomia para procurar uma forma de buscar conhecimento e informação e assim conseguir recuperar parte do que foi perdido. Por fim, não há certo ou errado. Os efeitos colaterais da pandemia na educação são grandes e não conseguirão ser eliminados ou reduzidos a curto prazo. Teremos que ter capacidade de lidar com eles e aos poucos minimizar seus impactos quanto ao futuro dos nossos jovens. Vamos ao Enem desejando a todos os participantes uma boa prova e muito sucesso, na medida do possível.

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