Constantino: Bolsonaro marca gol com vetos, mas perdeu o jogo ao indicar Aras

  • Por Jovem Pan
  • 06/09/2019 10h02 - Atualizado em 06/09/2019 10h06
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo Bolsonaro jair-bolsonaro.jpg Sensação é de que o presidente afrouxou com a Lava Jato

Nesta quinta-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) vetou 36 pontos do projeto de lei de abuso de autoridade, amplamente criticado na sociedade. Poucas horas depois, porém,  ele indicou o atual subprocurador-geral da República do Brasil, Augusto Aras, para suceder Raquel Dodge no cargo de Procurador-Geral da República, causando fortes declarações de repúdio.

“Ele marcou um gol com os vetos, atendeu a quase todas as demandas do Moro, acho que ele cumpriu sua missão quera difícil, porque se ele vetasse tudo ou quase tudo, porque ia arrumar problema muito grave com o Congresso Nacional – aliás, já está tendo forte reação do Congresso mesmo com a quantidade de vetos que fez – e ele provavelmente teria veto derrubado. Ao mesmo tempo, se ele vetasse pouca coisa e ignorasse as sugestões do próprio Moro, ele ia perder um apoio muito grande na base dele. Foi um indicador para ver o quão firme ele estava no seu ‘lavajatismo’. Se ele não defendesse, ele ia descobrir que o ‘lavajatismo’ é muito mais forte do que o bolsonarismo. Ou seja, Bolsonaro foi eleito por vários motivos, mas um dos principais é a bandeira do combate à corrupção. Se ele ousasse a remar contra essa turma, ia apanhar feio.

Então ele marcou o gol, teve um apagão no campo e, de repente, foi que nem Alemanha e Brasil: levamos sete gols contra. A escolha do Augusto Aras para a PGR foi realmente um tiro de bazuca no pé do bolsonarismo. O que isso produziu em termos de reação na base de apoio, na militância, foi um tsunami. Muitas coisas são mais imagens do que fato, mas a imagem de Aras é muito associada ao esquerdismo, o que ele não representa. Ele deu festa para petistas, falava ‘presidenta’, defendeu o MST e Che Guevara. Juntos, elementos são horrorosos para qualquer bolsonarista.

Mas pior do que isso é a desconfiança que ele passa em relação ao seu compromisso com a Lava Jato. Em várias entrevistas, ele deu a entender que considerava que tinha muitos excessos, estava jogando em uma linha ao lado de quem quer asfixiar a operação no Brasil. Com isso, pessoas influenciadoras importantes do bolsonarismo já começaram a largar a toalha, porque isso não bate com a narrativa construída pelo presidente. Há a sensação de que, de alguma forma, ele cedeu à alguma espécie de acordão – por causa de seu filho investigado, o senador Flávio Bolsonaro, por exemplo – e afrouxou na Lava Jato”, avaliou Constantino.

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