Constantino: Bolsonaro usa dados do BNDES, que já eram públicos, como retaliação
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou, na noite desta segunda-feira (19), uma lista com os nomes de 134 compradores de jatinhos da Embraer através de financiamentos pelo banco entre 2019 e 2014. Entre eles, estão o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador Luciano Huck.
“Foi anunciado como transparência, abrir a caixa preta, ams não é bem isso. Isso é informação de domínio público. Todo mundo quer um financiamento subsidiado, não necessariamente para comprar um jatinho porque não tem condições de pagar depois os juros, mas estamos falando de R$ 2 bilhões em uma taxa de 2%, 2,5% até 8%, 9%, dependendo do financiamento. Então assim, não é ilegal, uma vez que existe o instrumento, o sujeito utilizá-lo. Eu vi muita gente nas redes sociais falando que isso não gera emprego, mas calma, porque a fabricação de um jatinho pela Embraer, uma empresa brasileira de sucesso, gera emprego.
Então a primeira questão é: porque foi divulgada agora essa informação e dessa forma, uma vez que não é abrir caixa preta? Eu sou sempre a favor da transparência, mas isso é, repito, informação de domínio público. É óbvio que é porque o Luciano Huck está na lista e tinha criticado o governo, então o próprio presidente Bolsonaro deu a entender que isso seria uma retaliação. Isso não pega bem. Temos que sempre pregar mais transparência nas empresas públicas, mas não de forma pessoal, personalista, pelo presidente, porque ele quer atingir alguém que está criticando ele. Então de novo, essa mentalidade de Bolsonaro de que os órgãos de estado e as empresas estatais servem, de alguma forma, a ele e a seus interesses, isso é algo que precisa ser condenado.
Agora, quem pegou o financiamento, repito: não é ilegal, tem lá o instrumento, quer comprar seu jatinho, compra. O problema é que tem até banqueiro nessa lista, fora alguns investigados pela polícia, por operações como a Greenfield, e isso não deveria passar. Como que um banqueiro vai lá e pede financiamento ao banco concorrente? Isso diz alguma coisa sobre a existência do BNDES. Quando um banco vai lá e oferece taxas abaixo até mesmo da inflação, como eu citei aqui, 2,5%, 3% ao ano é óbvio que vários empresários vão querer investir em lobby, em ter algum tipo de benefício, em ser amigo do rei. É isso o que está errado. Então o problema, aqui, para mim, não é quem pegou financiamento, e sim a existência de um banco como o BNDES, que desvirtua o mercado e faz com que todo mundo queira fazer parte da lista de privilegiados”, avaliou Constantino.
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