Constantino: Recusa de dinheiro é resposta simbólica aos insultos de Macron
O governo brasileiro afirmou, na noite desta segunda-feira (26), que vai rejeitar a ajuda de US$ 20 milhões, equivalente a R$ 83 milhões, prometidos pelo G7 para controlar as queimadas na Amazônia. A decisão foi tomada após o presidente França, Emmanuel Macron, dizer, mais cedo, que a floresta deveria ser gerida internacionalmente.
“O presidente Jair Bolsonaro (PSL) já tinha dado a entender que rejeitaria esse dinheiro, agora ele já disse que, se o presidente francês retirar os insultos que fez a ele, ele pode aceitar. Se ele recusar, de fato, se o Brasil recusar, o que também gerou uma divisão dentro do próprio governo, já que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que a ajuda seria ‘bem-vinda‘, preocupado com as queimadas, enquanto o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, por uma questão mais política, teria dado a entender que não precisa desse dinheiro. Se recusar, de fato, o dinheiro em si não é essa quantia que fará tanta diferença assim, US$ 20 milhões, mas é uma desfeita para outros países do G7, como Estados Unidos e Reino Unido, que adotaram uma postura muito mais humilde e de ajuda.
Agora, é dura a diplomacia da era do Twitter. A escala dessa tensão entre os presidentes do Brasil e da França foi subindo tanto, e talvez tenha chegado a um ponto quase irreversível, porque envolveu um assunto pessoal – rir da piadinha sobre aspectos físicos da primeira-dama francesa, que pegou muito mal, está sendo o foco de muita gente. Mas eu, em nome da Justiça, acho que a forma importa, mas o conteúdo também. Os insultos de Macron me parecem mais graves ainda, além dele ter começado – o que pode parecer briga de quinta série, mas o fato é que ele chamou o presidente brasileiro de mentiroso. Em seguida, após a piadinha, ele diz que o Brasil deveria ter um presidente a altura do cargo, o que é, também, um insulto muito grave, e o mais grave de tudo, é o que passa despercebido nessa coisa toda, são as insinuações de que a Amazônia deve ir para um caminho de internacionalização jurídica. Isso é, sim, uma afronta à soberania nacional. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, respondeu hoje com uma série de tuítes, e disse que o Brasil ‘não aceitará nenhuma iniciativa que implique relativizar a soberania sobre seu território qualquer que seja o pretexto e qualquer que seja a roupagem’.
Qual o interesse do Macron nessa história? Ou ele é ecologista de ocasião, que aparece em véspera de eleições, preocupado com a questão do meio ambiente para poder angariar votos e viu oportunidade incrível com a questão da Amazônia ou existem interesses obscuros mesmo da França na região. Essa questão da internacionalização jurídica é muito grave, séria e tem que ter reação a altura. Recusar é uma coisa simbólica, que, repito, afeta também os outros países que fazem parte do G7, mas seria um simbolismo para reagir a esses insultos pessoais – não só a eles, porque tem que sair da esfera pessoal, e Bolsonaro tem mania de personalizar tudo o que é do estado, típico da mentalidade latino-americana populista, patrimonialista – mas a questão de Estado, mesmo, tem que levar a sério o que está sendo dito e feito na Amazônia”, avaliou Constantino.
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