Rodrigo Constantino: Com essa militância tosca, Bolsonaro não precisa de inimigos do lado de fora
O Ibovespa cai rumo aos 90 mil pontos, enquanto o dólar sobe rumo aos R$ 4. Enquanto isso, a grande polêmica parece ser comemorar ou não o golpe ou contragolpe de 64. Em tempo: acho, sim, que é importante, dentro do embate de narrativas, mostrar o contexto da Guerra Fria naquela época, explicar que os comunistas nunca defenderam a democracia, e que os militares impediram o destino cubano para o Brasil.
Mas, em primeiro lugar, isso é diferente de enaltecer um regime autoritário e incompetente que durou mais de duas décadas; em segundo lugar, não temos outras prioridades nesse momento?
Foi exatamente o ponto da deputada Janaina Paschoal. Em uma série de tweets, ela fez um apelo ao presidente para deixar 64 no passado, pois há coisas urgentes a serem feitas. “Sabendo que desagrado gregos e troianos, insisto: Deixem 64 em 64! Temos 2019 e diante para cuidar!”, disse numa das mensagens.
Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, também lamentou o desvio de foco do governo em seu blog: “Em meio a isto o presidente e sua prole desperdiçam tempo e energia em temas que podem até contribuir para manter sua base em pé de guerra nas redes sociais, mas que não contribuem nem para a estabilização econômica, nem para a estabilização política do país.”
A militância bolsonarista aposta numa narrativa que culpa o Congresso pelos problemas, ignorando que o fracasso das reformas será o fracasso da retomada econômica e, portanto, do governo Bolsonaro, que será responsabilizado pela crise. Podem mirar em Rodrigo Maia o quanto quiserem: no final do dia será o presidente a arcar com o ônus no caso de recessão.
Os alertas que vários temos feito não devem, então, serem tomados como um ataque ao governo ou ao presidente. Ao contrário: estamos tentando salvar o governo. Mas com essa militância tosca, Bolsonaro não precisa de inimigos do lado de fora…
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