Rodrigo Constantino: Ninguém tem o povo nas mãos, seja governo, seja oposição
“Derrubamos a presidente mais corrupta do planeta Terra sem quebrar uma janela. Assim seguiremos fazendo as mudanças que o Brasil precisa.”, escreveu Eduardo Bolsonaro.
Então a premissa é essa: o “sistema” está completamente corrompido e todo o Congresso, eleito, não presta, não vale nada e só quer roubar? Por outro lado, o presidente eleito fala em nome do povo, incorpora a “vontade geral”? Quem não percebe o caráter populista e autoritário desse discurso nunca leu muito livro de história, sejamos francos. Foi exatamente assim que fez todo populista, desde sempre. Pergunto: quem deu procuração para se falar em nome do povo?
Ninguém, a rigor, tem o ‘povo’ nas mãos, seja governo, seja oposição. Milhões foram às ruas contra o PT, pelo impeachment de Dilma. Entre eles, vários mobilizados pelo MBL. Mas o MBL está contra a manifestação governista do dia 26. Deixou de ser povo? Vimos recentemente milhares nas ruas protestando contra o governo, usando o pretexto do contingenciamento na educação. Não eram parte do povo?
Confesso: morro de medo de nerds com fala mansa que pensam ser templários numa cruzada e instigam uma “revolta popular” do conforto de seus escritórios, alguns até longe do Brasil. Essa gente é um perigo! Todo aquele que jura falar em nome do povo adota postura arrogante e autoritária, além, claro, de populista.
Eis o que Eduardo Bolsonaro finge não entender: uma coisa é unir gente em prol de uma agenda comum contra um inimigo definido, fazendo pressão popular para derrubar um governo ilegítimo. Outra, bem diferente, é achar viável governar um país dessa forma! O que Eduardo deseja, na prática? Cada medida proposta pelo governo vai levar a uma nova manifestação “popular” nas ruas, para driblar o Congresso tido como ilegítimo? O que vem em seguida? E para as próximas reformas? E para continuar governando até 2022? Onde isso vai parar? Isso não é populismo autoritário?
Achar que é possível governar um país da mesma forma que se faz para derrubar um governo é o grande equívoco do bolsonarismo, explícito na fala do filho do presidente. Isso não tem como acabar bem, se a história serve para alguma lição.
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