Rodrigo Constantino: São muitos os fatores que podem explicar ataque em Suzano
O massacre ocorrido na escola em Suzano continua como principal pauta, e não é para menos: esse tipo de tragédia gera não só consternação geral, como muita perplexidade e reflexão. O que explica algo assim? De onde vem tanta maldade?
A primeira resposta, e mais honesta, é “não sabemos”. Qualquer tentativa de justificar de forma simplista um fenômeno desses estará fadada ao fracasso. São muitos fatores envolvidos.
Um primeiro candidato é a doença mental. Infelizmente falamos pouco desse tema, pois o movimento antimanicomial, há décadas, tenta relativizar ou até glamourizar os distúrbios psicológicos.
Ninguém mais é maluco, louco, pois isso não é “politicamente correto”. Apontar desvios de comportamento pega mal, pois na hiper-subjetividade de hoje, cada um é cada um e ninguém tem nada com isso.
Não há mais padrões, regras, normas. Ninguém é normal, pois é ofensivo falar nisso, então ninguém é doente mental. Essa mentalidade é um perigo! Precisamos falar sobre Kevin…
Além da doença mental, temos o bullying como candidato para explicar esses massacres. Mas eis o que raramente é dito: o bullying sempre existiu, mas não tais ataques. O que mudou? A forma como se reage ao bullying. O tiro sai pela culatra. Os “progressistas” podem ser bem-intencionados até, mas o excesso de zelo e proteção produziu uma sociedade de “flocos de neve”, incapazes de lidar com a troça.
Tudo virou ofensa. Em “lugares seguros”, os jovens modernos não suportam mais qualquer “microagressão”. Temos, como consequência disso, uma juventude despreparada para a vida real, onde há muita gente ruim. Campanhas contra o bullying não vão fazê-lo desaparecer.
O ressentimento é outro fator importante. O niilismo, a falta de sentido mais elevado para suas vidas, as famílias desestruturadas, jovens drogados como consequência disso, a ausência divina que costumava preencher o vazio existencial de muita gente no passado. A vida humana não é mais sagrada, foi banalizada.
Além disso, temos o showbiz, o mundo do entretenimento em que todos buscam seus 15 minutos de fama, ainda que de forma tosca. O efeito contágio não pode ser descartado: esses jovens se inspiram em massacres anteriores e fantasiam seus nomes em destaque nos jornais, mesmo que por algo terrível. É o que fornece algum “sentido” às suas vidas vazias, medíocres, perturbadas. Ao menos se tornam “importantes” de alguma maneira.
Enfim, são muitos fatores que podem explicar esse comportamento monstruoso, desumano. Culpar armas ou videogames é apontar para um bode expiatório, querer encontrar uma causa única simplista, para não ter de lidar com a complexidade do fenômeno.
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